terça-feira, 30 de setembro de 2008

Lady Di


Diana Spencer, filha mais nova de um casal aristocrata, com linhagem nobre tanto pela parte da mãe como pela parte do pai, era uma criança tranquila, simples, introvertida, de sorriso tímido, incrivelmente modesta e sensível. Beleza inconfundível de seu olhar azul céu, cabelos loiros, esbelta, alta, elegante, eis a mulher famosa que se tornou e que encantou multidões por todo o mundo.
Filha de pais que se separaram quando esta tinha apenas sete anos, fruto de uma infidelidade por parte da mãe, sofreu muito aquilo que foi uma completa falta de amor e carinho transmitido e expressado alguma vez pelos seus pais. Viveu uma infância infeliz e jurou para si mesma ser ela capaz de construir uma família feliz e unida, ao contrário da sua experiência familiar de primeiro grau. Valorizava muito o casamento, o ter filhos, uma vida a dois pacata, uma entrega total à família, uma verdadeira mulher, no sentido mais ancestral do termo.
Em criança e adolescente o que mais apreciava era a dança, nomeadamente o ballet, e sonhava ser artista, cantora, ou pianista. Também era fabulosa no desporto tendo conseguido algumas medalhas.
Embora fosse filha de nobres, ela trabalhou como uma mulher normal que procurava independência e realização pessoal. A sua última profissão foi como Educadora de Infância, onde todas as crianças a adoravam, colocando-se ao seu nível, brincando com elas, revelando um sentido apurado e inato de afecto maternal.
O Príncipe Carlos, após ter terminado o namoro com a irmã mais velha de Diana, apesar da diferença de idades, criou-se entre eles um enamoramento. Diana estava extremamente apaixonada pelo Príncipe, suas mãos transpiravam sempre que o via e seu rosto corava de vergonha e acanhamento. No dia 6 de Fevereiro de 1979, o Príncipe Carlos pede a mão em casamento a Diana ao que esta, de tanto o amar, não podia de forma alguma recusar. O namoro era aparentemente feliz quando se apresentavam juntos em público, mas Diana sempre soubera do Amor que Carlos sempre sentira por Camilla.
O casamento ocorreu na Catedral de São Paulo em Londres, numa quarta-feira, no dia 29 de Julho de 1981. Ela irradiava beleza, especialmente naquele dia, mas já no período de namoro enfeitiçava as câmaras e o público que muitas vezes a preferiam a ela do que ao Príncipe Carlos. No meio da década de 1980, após o nascimento dos dois filhos do casal, as ausências do Príncipe eram cada vez mais frequentes e a solidão de Diana cada vez mais insuportável. Afinal, aquele conto de fadas que imaginara para a sua vida, de casamento feliz e sólido, gozando da alegria de construir uma família, não passara de um ideal, de um sonho, de uma fantasia que nunca viu realizada. Entre vários conflitos maritais e traições de ambas as partes, os príncipes de Gales finalmente separaram-se a 9 de Dezembro de 1992. O divórcio foi finalizado em 28 de Agosto de 1996.
Apesar dos escândalos e polémicas geradas em torno de Diana, certo é que ela se destacou, na monarquia britânica, pelo apoio a projectos de caridade, em campanhas contra a SIDA e contra minas terrestres, tendo ido a Angola e Bósnia como voluntária do Comité Internacional da Cruz Vermelha. Diana sempre revelou uma sensibilidade, empatia e generosidade fora do vulgar ao lidar com os doentes, dando sempre um carinho, um abraço, um aperto de mão, uma palavra de conforto, consolando aqueles corações tão maltratados pela vida.
Pois que a vida de quem é mais nobre de coração é sempre curta, falece num acidente automóvel, a 31 de Agosto de 1997, no apogeu da sua vida, aos 36 anos de idade, deixando dois filhos ainda pequenos por criar e educar segundo as suas regras do bem-fazer e da generosidade. O seu funeral, a 6 de Setembro de 1997, foi assistido por aproximadamente dois milhões de pessoas em todo o mundo, chorando-se copiosamente uma perda terrível, de um ser humano tão imenso, tão nobre e perfeito, que de tanta beleza, já por si só transmitia imensa paz, um calor humano incrível. Saberá Deus dar ao mundo mais princesas de igual perfeição à de Diana? Calculo que não, alma doce e rica!


30/09/2007

Evita


Provinciana, isolada e de sonhos elevados e firmes, de beleza singular, loira, pele cor pérola, um olhar doce, desejava ser artista em Buenos Aires, aquela cidade mais desejada. Pertencente a uma família pobre, criança abastada de pai, que não a perfilhou, mãe amante, trabalhadora e lutadora, vivia na esperança de vestir cetim, rolar-se em grandes salões luxuosamente decorados, ter um papel importante na sociedade… no fundo, ser reconhecida no seu mais íntimo valor.
Aos 16 anos, destemidamente parte em busca do seu sonho, indo até Buenos Aires na companhia de um amigo de família. De mala única na mão, com apenas umas pecinhas de roupa engomadas com amor pela sua mãe, passou fome, privações, sujeita ao vislumbre de homens sem escrúpulos, nunca perdendo a vontade de conquistar o palco, fazer representação, ser actriz. Eva passava o dia à procura de trabalho em rádios, revistas e, principalmente, tentando uma oportunidade no teatro e no cinema. E sempre conseguiu um papel secundário num filme, onde revelou a nu a sua não aptidão para a carreira de actriz. Mas esta oportunidade, embora nada brilhante, valeu-lhe o passaporte do conhecimento do então Vice-Presidente da Argentina, Juan Péron. Homem alto, de porte atlético, sempre sorridente, enfeitiçou-a no primeiro instante. Ela, como jovem bela, quase cintilante, atraiu Perón de igual forma.
Após um horrendo terramoto, em San Juan, 1944, Perón organizou um evento para angariar fundos para as vítimas do terramoto. Um ano mais tarde, poucos dias após as comemorações do seu 50º aniversário, Perón foi preso por ordem de Edelmiro Farrel, então presidente provisório da República. Desse evento houve uma grande contestação popular e Eva Duarte, seu nome de baptismo, já tendo um programa de rádio onde declamava versos, participava de rádio-novelas e falava sobre a biografia de mulheres famosas, mergulhou de cabeça numa campanha furiosa e desenfreada pela libertação de Perón. Dois dias depois e onze dias após sua prisão, era possível ver de novo, na fachada do Palácio do Governo um vulto acenando para a multidão de dezenas de milhares de simpatizantes, sorriso nos lábios, os dois braços ao alto. Era Perón! Livre! Pouco depois estabelece os laços patrimoniais e de Amor com Eva e pactuou-se ali uma sociedade de ideias e interesses que os levou aos limites do poder, da glória e da riqueza, culminado em ruína. Em 1946, Perón é eleito como Presidente - graças a Eva, à sua astúcia, firmeza, persuasão e entrega às massas populares mais pobres da Argentina – os “descamisados”.
O voto feminino, reivindicação histórica das mulheres comunistas argentinas, foi implantado por um golpe de voluntarismo de Evita. Defensora dos mais pobres, oprimidos, fragilizados da sociedade, era mais que a mulher do grande Perón, mais que uma benfeitora, mas a líder espiritual da nação argentina; quase uma Santa. Pois que ela operava milagres, através da sua voz conseguir unir o pobre e o da classe mais rica de forma a que lhes fossem satisfeitas as suas necessidades mais básicas de sobrevivência. Era uma luz de confiança, da possível igualdade entre classes sociais, um ideal de sociedade com poder económico devidamente e equitativamente distribuído.
A sua presença era magnífica, atraía pelo seu carisma, pela sua generosidade, pela beleza que possuía e ostentava luxuosamente, como sempre desejou… Vestidos em cetim, jóias e o seu cabelo loiro canudado, sempre brilhante e resplandecente.
Faleceu com 33 anos com um cancro uterino, rápido e fatal, tendo apenas sido líder política argentina durante sete anos, donde saltou da completa pobreza e anonimato para uma das figuras femininas mais mundialmente famosas. Incapaz de aceitar que estava a desfalecer de modo súbito, ainda acreditava poder ser mais útil ao seu povo argentino, idealizando uma vida longa em que pudesse ser capaz de fazer frente aos malfeitores da sociedade e dar poder aos pobres e miseráveis que ela tão bem acolhia em seus braços. Que génio humano, que generosidade, que alma perfeita!
A notícia da sua morte foi uma tragédia, um desespero geral, uma perda imensa, um pranto comum e ritmado de uma mesma dor, de uma tão grande perda… de uma Santa! Foi então embalsamada para ser contemplada pelo seu povo amado, para jamais ser esquecida.

30/09/2008

Quanto vale uma vida?


Pensa um pouco… quanto vale uma vida? Como quantificavas? Valeria um diamante? 100 diamantes? Um anel de ouro? Um carro? Um prédio? O mar? Diz-me o quanto? Dá-me um valor? Explica-me, antes de mais, que valor tem a vida?
Judeus mortos, incinerados vivos, em câmaras de gás asfixiados… Diz-me, e os judeus, quanto valem? Ou, na altura da Grande Guerra na Alemanha, quanto valiam perante os alemães? Teriam, quiçá, menos do que o valor de um piolho, de uma pulga, de uma mosca… Os judeus eram bichos a eliminar… E assim se passou, um extermínio quase total de Pessoas, mas que professavam uma religião e tinham características físicas diferentes do que era considerado o “ideal humano”. Valeriam menos por isso?
E a comunidade cigana, quanto vale para ti? Mais que uma pulga? Serão já uma espécie de baratas? Em que te são diferentes? Porque os espezinhas? És superior? Se sim, diz-me então: em quê? O que torna “uma raça superior”? Os costumes são diferentes, as roupagens também, a vida incerta também… Mas tornam-se inferiores a ti por isso?
E os de raça negra! “Malditos sejam”, por muitos que se remetem a imaginá-los… feios, escuros, sujos, lábios grandes, grossos, nariz aberto, olhos pequenos… Todos iguais! São eles a desgraça do país? Se são de facto, quanto valem para ti esses? Uma pedra tosca da calçada? Um pedaço de terra seca e infértil? Quanto valem? Em que se distinguem de ti? És superior? Em quê? Tens a pele branca, mais macia, mais bela, mais cintilante, és mais perfumado, vestes-te melhor, vens de melhores famílias… É isso? Será essa a regra?
E os chineses? Quanto valem? Vendem produtos que se vem a descobrir que são cancerígenos? Valem algum espaço em Portugal? Também são todos iguais para ti? Confundem-te? E tu, és superior em quê? És um vendedor sério, nada do que comercializas está de modo algum danificado ou poderá vir a ser alvo de um possível e novo descobrimento acerca das suas características menos saudáveis ao organismo? Tens a razão? A melhor capacidade de falar? És melhor entendedor? Serás mais inteligente? Averigua…
E a comunidade brasileira… que fama têm… Que valem para ti? Valem pelo prazer que são rotulados apenas saberem fazer de bem? Valem a aposta no seu trabalho? Valem o espaço que preenchem quando deambulam pelas Tuas ruas? Em que és superior a eles? És tu, português, mais trabalhador, mais honesto, mais fiel? Pensa…
E os jeovás? Te repugnam quando apregoam seu Evangelho, que é o mesmo que o teu, mas interpretado de forma diferente? Foges deles, quando os avistas de longe? Porquê? Também te sentes superior? Ao lado deles, em que diferes? És católico, nunca leste a Bíblia, mas és crente naquilo que ouviste falar acerca do Catolicismo ou que teus pais te ensinaram. Haverá religião superior? Quantos Deuses existem? Um ou muitos? Porque guerreiam então aqueles que, fiéis aos ensinamentos, crêem num Deus que tem nomes diferentes? Ter nomes diferentes, significa que é mais que um? Ou será que quererá tudo chegar ao mesmo… a um e único Deus?! Reflecte…
Porque te olhas ao espelho e como de pura ilusão te sentes mais e melhor que todos? Tens beleza maior? Tens inteligência maior? Tens qualidades humanas maiores? O que vales tu, meu amigo? Já te quantificaste? Por quanto te venderiam? Meia dúzia de camelos? Ou não haveria riqueza no mundo que pagasse o teu valor… já que és infinitamente valioso?
Porque há dias em que te olhas ao espelho e, pelo contrário, detestas o reflexo que vês? Perdeste o teu valor nesse dia? Nesse instante? Nessa hora? O valor permanece ou desgasta-se com o tempo, como as rochas áridas de uma praia? Os erros que cometes retiram teu valor? E porque cometes erros? Por ódio ou por Amor? Não terão perdão teus erros? E aquilo que fazes de bem, não valorizas? O bem que fazes sobrepõe-se a todas as tuas faltas cometidas no passado? Se errar é humano, perdoar é divino… E o perdoar, não são os outros que o terão de fazer, és tu que deverás, internamente perdoar-te a ti mesmo… aí estás a ser divino! Pois igual a ti no mundo não existiu, não existe, nem irá existir. És único, feito de perfeição e ninguém, por mais que tente e se esforce, se assemelhará a ti. Compreende-te a ti mesmo, a tua singularidade, olha para dentro de ti, descobre teu valor e depois dá aos outros o teu melhor, deixando a tua marca no mundo, quando mais tarde, naturalmente, desapareceres. E nunca esqueças que o valor humano está repartido por todos aqueles que conheces, convives ou ignoras. Cada um, de forma mais ou menos inteligente tem de saber dosear esse valor, aplicá-lo ao que na vida mais importa, a todos aqueles que mais precisam… Talvez assim o mundo fosse melhor, partindo desta consciência.


30/09/2008

domingo, 28 de setembro de 2008

Momento de Amar


Rapaz tímido, reservado, passeia-se pelas ruas desconhecidas de uma cidade anónima e perante si, entre esquinas e becos obscuros, depara-se como um anjo, uma bela mulher, de cabelos ruivos, olhos de um azul marítimo, de expressão aventureira e jovial. Travaram uma conversa banal até que, apesar da negação da atracção mútua, acercam-se um do outro e selam um beijo apaixonado e inocente. Como naquela cidade desconhecida apenas o rapaz franzino iria permanecer por mais um dia, eis que ele diz que quando tudo na sua vida estivesse resolvido, em termos de estabilidade económica, um emprego capaz, viria buscá-la para viverem seu Amor. Falou-lhe de uma espera de cerca de seis anos, crente no poder do Amor além tempo e espaço. Eram jovens adultos, cada um na faixa dos 24 anos, talvez…
Ambos, em vidas separadas geográfica e fisicamente, entre relações desafortunadas, ao acaso ou pela obra de um destino ditador, acabaram por se encontrar acidentalmente por duas vezes mais. E o que marcara o encontro inicial, marcava também os encontros fortuitos que se seguiram. Do segundo encontro, ele deu-lhe a sua máquina fotográfica, a sua maior relíquia e com ela tornou-se uma artista fotográfica, encantando multidões, com retratos, alguns deles, de momentos dos seus breves enamoramentos. Despedidas tristes, não faladas, pois que as palavras destroem qualquer encanto… Para quê fazer promessas de uma vida que ambos tinham como incerta e instável?
Então é que o Amor, nos breves instantes passados juntos, avolumava-se de cada vez que se viam. Ele, Ollie, naquele grande dia, travando lutas com seu pensamento que lhe fugia para junto daquela moça mulher, Annie, no seu grande apogeu em termos de oportunidades de carreira, foi incapaz de reflectir, foi incapaz de fazer valorar perante os outros as suas ideias originais, terminando de mãos nos bolsos, desempregado, como há seis anos atrás.
Ele que antes já tinha adquirido independência, falhado, incapaz e vulnerável, regressa à casa dos pais, mas com um propósito feliz a preenchê-lo: a Annie. Mais uma vez, pelo acaso acidental como ao princípio aparenta, preenchendo o silêncio e a sua inércia, cruza-se com uma galeria de arte onde lhe sobressai instantaneamente fotos… não quaisquer fotografias, mas aquelas que ele tinha partilhado com Annie, naqueles fortuitos encontros ocasionais nos últimos seis anos. Pertenciam-lhe, faziam parte da história dele, agora com os seus 30 anos de idade… ela estava ali, bem perto dele, mas onde?! Inacreditável! Desencontro imperdoável à sorte! Mas como cada história de Amor se pauta por certas parâmetros, a espera por vê-la, perto da galeria de arte, não trouxe contentamento… a espera propositada não era possível entre eles… o incerto neles se dissolvia melhor.
Procurou-a então na sua morada, que já conhecia do encontro anterior, 2 anos antes. Cantou-lhe uma linda serenata: “Sou teu/ Faço parte de ti/ Não há espera para o nosso Amor/ Quero-te agora aqui…”, enquanto ela, cabisbaixa e emocionada, ganhava coragem para dizer algo inesperado: “Ollie, adorei a música, mas estou noiva!” Teria a história destes dois seres terminado ali? Sim, certamente! Ele vivendo na casa dos pais, como há 6 anos atrás, nas mesmas circunstâncias de dependência, solitário, desajeitado e triste, e ela casada com outro, tendo filhos belíssimos. Teria o destino desejado que tal acontecesse, depois de tantos cruzamentos inesperados e felizes? Ainda haveria tempo para os dois; para um “nós”?
“Annie, que se passa contigo?” – pergunta o seu noivo, estranhando o comportamento da sua bela e quase esposa, de uns dias até àquela parte. Ao que ela responde, surpreendendo-o: “Não quero mais casar contigo, John!”
Corre Annie, ele espera-te! Tentativas de contacto falhadas, morada desconhecida… Por favor, uma luz! A amiga de Annie, nesse dia tinha visto Ollie, mas como? Provando um fato de casamento?! Sim! Céus! Como é possível! “Annie, eu vi-o… ele vai casar-se… desculpa dizer-te”. “NÃO !!!” – grita coração, quando da razão não encontras justificação para a vida!
Annie, ainda assim, repensa uma despedida última e consegue a tão desejada morada de Ollie. Em fronte à sua casa, trémula, consegue distinguir ambiente cerimonioso… avista Ollie de longe, este a trespassa com seus olhos, incrédulo! “Annie, como estás?” – “Bem!... Desculpa ter aparecido sem avisar… Desculpa, não devia ter vindo!”… e foge, derrotada, desesperançada, sem nada que a suporte, cambaleante até seu carro, pronta para um novo “refazer” de insustentáveis esperanças alimentadas até sempre.
“Annie, por favor!” – era ele! Beija-a sem mais nada dizer… ela olha-o estupefacta. – “Não sou eu quem vai casar, Annie, é a minha irmã! Há tempo para nós, sim, não mais te largarei grande Amor da minha Vida!”. Futuro Feliz viveram, apreciando o tempo único e que nos escapa entre os dedos, tão volátil.
Para quê esperar? Se Amar não tem hora, nem momentos certos, nem é um objectivo a atingir após o tudo conseguido? Vive-o já ou perdê-lo-ás… Histórias de Amor como esta só nos filmes cor-de rosa!... Não resta tempo… o amanhã já é tarde demais! Vive e ama enquanto te for ainda possível fazê-lo!

Clara Conde
28/09/2008

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Raiva









Egoísta auge da solidão
Em periferias deslocada
Atirada em nada ambição
Felizarda cilada retirada.

- “Porque desejada em ambição
Nunca facilidade atingida?”
- “Porque sorris em solidão
Alma sem chama perdida?”

- “És fome, miséria, nua perdição
Consumida em chama branda
Desgaste na imunda sudação
Repeles o amanhã, desvendada!”

- "Que sobra de ti, fanfarrão?”
- "Sonho Amor trabalhado
Sólida postura erguida…”
- "Gigantes terrores, rebelião!”

23/09/2008

sábado, 20 de setembro de 2008

Longe do Mundo








Eu não sei se Vais ouvir-me
Se Estás aí ou não
Eu não sei se Compreendes
Esta oração.

Se eu para Ti sou uma estranha
Que o coração perdeu
É ao Ver-Te que eu pergunto
Se já Foste como eu.

Longe do Mundo
Mas perto de Ti
Peço conforto
De quem eu fugi.

Perdida, esquecida
Eu oro aqui
Longe do Mundo
Mas perto de Ti.

Peço conforto e nada mais
Na voz dos que sofrem
Pecem sinais
Vêem de longe
E chegam por fim
Quem vai ouvi-los?
Quem sofre assim?

Eu não sei se Vais Lembrar-Te
De um coração tão só
Coração tão vagabundo
Oh! Que perde e chora todos os dias!

Longe do Mundo
Mas perto de Ti
Peço conforto
De quem eu fugi.

Venho de longe
E chego por fim
Quem vai ouvir-me?
Chama assim.

Perdida, esquecida
Aqui a orar
Longe do Mundo
Mas perto de Ti.

Sara Tavares

Avança Herói, avança!


Encontrei-te submerso em pensamentos, de rosto cálido, as mãos fronte ao rosto, aspecto desgraçado, desprezado e perguntei por ti, pela tua sorte, pelo teu pesar. Olhou para mim, de olhos humedecidos e incrivelmente envelhecidos no paradoxo dos seus 24 anos e me diz que viver é como arder devagarinho numa fogueira acesa, de que o mundo não se revia nele, nem ele no mundo, que existe uma profunda tristeza pelos outros, por si mesmo, pelo que as pessoas hoje são e que tanta vergonha sentia de tão vulgares serem.
Cobri-te em mantas quentes, te afaguei nos meus braços, te disse que a caminhada, desde que seja TUA, tem valor singular, que viver só, desamparado é duro, mas que antes isso do que remar junto de uma maré pela qual não te revês, pela qual não te completas. Abracei-te e senti que te sentias melhor, lenta e pausadamente com as minhas tão simples palavras de consolo, de tentativa de te fazer renascer, de ter fazer sobreviver, massajando esse coração ferido e das chagas que te criaram em teu rosto, nas tuas costas, nos teus pés, nas tuas calejadas e tão ingénuas mãos. Fica comigo, lhe disse eu, crê em mim, crê em ti acima de tudo, que és humano nobre e tens valor, mesmo quando todos te apedrejam dizendo que és canalha.
Meu filho, ergue esses olhos e enxagua-os no meu manto, lava esse rosto da água impura, abre um sorriso e caminha em frente. Bem vês que lá ao fundo está o pôr-do-sol. E ontem um arco-íris se formou diante de ti, e nem assim soubeste perceber o que ele te queria ofertar e significar: “És igual a mim, tens magia na alma, brilho no olhar, após o pranto vês cores imensas, mais escuras e mais claras, conforme teu coração se reflecte, mas tens um encanto só teu, ninguém no mundo será igual a ti, és matéria-prima em única obra de arte concebida; não te percas de ti!”
Porque (vira-se ele para mim, incrédulo, confuso, indefeso, tão incerto no apalpar do desconhecido), o mundo está assim tão desnutrido? Porque é que sinto que tudo que me cerca é errado, incorrecto, injusto? Porque me vêem apenas com os olhos, deixando de me olhar para dentro da minha alma e assim melhor me avaliar? Porque fazer o bem tem sempre um preço? Que mundo, MEU DEUS!?
Retorqui de voz doce que respostas certas nunca as conseguiria dar e que as melhores respostas estão guardadas no seu coração, que a busca da felicidade em vida mundana e corrosiva não é tarefa fácil, que a felicidade não se resume a coisas, a acções, a comportamentos, a conquistas materiais. Leve os anos que levar, a essência da felicidade será sempre a mesma: Amar os outros. Daí ele olha-me de soslaio, não acreditando nas minhas palavras e exclama furioso: “Mas como amar os outros, se são os outros que me pisam, me magoam, me ofendem, me fazem sofrer e chorar?”
Meu filho, atenta nos meus olhos e entenderás. Aqueles que te magoam, que me molestam, que te traem, precisam de alguém que os acolha, porque estão também perdidos e estão a deixar-se levar pelos ventos contrários do mal, porque esses causam menos pesar, mas vão arrancando do peito as virtuosas qualidades humanas. Eles de mágoas te pedem que lhes estendas as mãos, os abraces e beijes sua ira. Porque a perdição é muita e há sempre quem exista ainda neste poço de humanidade, aqueles que rejeitam a caminhada da manada… como tu, meu filho! Tu és feito de igual matéria, de igual amor, te dei ao nasceres o livre arbítrio, poisando-te sobre as mãos angelicais da meninice, o bem e o mal, o amor e o ódio, a bondade e a maldade, a felicidade e o infortúnio. Tu escolheste e caminhas no caminho que tracei para todos, mas que apenas tu e uns poucos outros perceberam os meus sinais e persistem na batalha. Porque caminhar em plano correcto é mais árduo, mais cansativo, mais penoso, mais árido, mais faminto, mais tempestuoso do que caminhar no plano errado, no plano da imperfeição. O mundo se constrói do que cada um quer ser… pena a maioria optar pelo mais simples, pelo mais confortável, pelo menos heróico, pelo mais curto e menos virtuoso. Mas tu és tu, e tens de lutar, caminhar descalço pelo plano que te adormece as pernas, te queima os pés, te rompe os tecidos, te sangra as mãos, te entorpece os movimentos, te deixa cair tantas vezes sobre joelhos calejados e feridos. Achas tu capaz de o fazer? De seguir por este caminho, que tem sido o que agora percorres, mas que agora ao caíres te afundas em questões retóricas e infundadas? Achas-te capaz de tanto?
O rapaz mostrou então um sorriso são aberto, tão doce, tão calvo, tão sereno, tão santificado e responde: “Que por piores os tormentos, piores as quedas, piores os ferimentos, piores as dores, piores as cicatrizes, vou continuar por aqui… o caminho da Tua luz”. Lhe digo, lacrimejando num emocionado alívio: “Bendito sejas, em ti mora a raridade do mundo, doce humano verdadeiro!”

Clara Conde
20/09/2008

Perfeição









Se crês em ti quando te rejeitam
Se te angustia o mal dos demais
Se sorrisos em lágrimas brotam
Se aceitas a dor que enlutais.

Se no poço vil te afundam
Se da injúria te debruçais
Se da tua pureza te enganam
Se amor és ante os sentimentais.

Se em calçada te esmagam
Se do teu bem-fazer, enfadais
Se teu pranto àqueles alegram
Se amizades em vão esperais.

Se és só olhos que muitos avaliam
Se és a ostentação que desdenhais
Se és quem perdoa os que erram
Se és traço recto nos vendavais.

És antes nascente onde te inspiram
És antes norte onde ensinais
És antes flor onde te cheiram
És antes exemplo que vós outros cobiçais!

19/09/2008

Não Ser









Chorei por ti
Nobre vagabundo
Porque és do mundo
Por todos esquecido.

Esfera do não ser
Mundo perdido
Desgraça do espezinhado
Invisível envolvido.

Como à morte sorrir?
Desgraçado desventurado
Do social desaparecido
Crueldade aniquilado.

Vida, que serves?
Se crias o fragilizado
E amaldiçoas o isolado
Te acercas, desvirtuado?

Dedicado aos “Sandros”
19/09/2008

sábado, 13 de setembro de 2008

As Regras da Sensatez








Nunca voltes ao lugar
Onde já foste feliz
Por muito que o coração diga
Não faças o que ele diz.

Nunca mais voltes à casa
Onde ardeste de paixão
Só encontrarás erva rasa
Por entre as lajes do chão.

Nada do que por lá vires
Será como no passado
Não queiras reacender
Um lume já apagado.

São as regras
Da sensatez
Vais sair a dizer que desta,
Desta é de vez!...

Por grande a tentação
Que te cria a saudade
Matas a recordação
Que lembra a felicidade.

Nunca voltes ao lugar
Onde o arco-íris se pôs
Só encontrarás a cinza
Que dá na garganta, em nós.

Rui Veloso