quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Clivada


Há, no que encerra todo o saber e razão, um turbilhão de sensações e pensamentos. Estão enrolados, como lã, de fibras negras fracas de um cheiro a passado anulado. Partem de fragilidades e estão resumidas a fios finos, em ruptura mais ou menos próxima. Na base que me sustém está a erosão de tempestividades repetidas e cíclicas, contidas e ocultas. Balanceio a cada sopro de vento e engelo e fujo! Não vos quero agora, mas sinto à vossa partida toda uma imensidão de solidão e sofrimento. Não me sei ser. E vou em tentativas na procura de um conhecimento. Receio que me confiem. Na estruturação de um caos, vais agarrar numa aparente pedra que, ao tocares, poderá resumir-se a pó. Agoniza este não ser. Processo moroso este solidificação parcelar e fragmentada. Conquistei uma grama sólida, em 26 vidas. Desejava um fim rígido! Receio limitar-me a deixar em terra apenas um calhau imperfeito, bruto e lacetado. Venham a mim mas não me tragam o amor que tanto almejo. Esse arrepia e dele estremeço! É assombroso! Tudo que tive como certo, o suposto alicerce, afinal era nulo. E, entregue a mim mesma, vou-me construindo. Mas sinto-me vacilante. Hoje corajosa, sentimento de capacidade de alcance, no outro insegura, julgando-me fraca para tolerar a viagem formativa que me espera. São demasiadas contradições na amostra de mim, no plano da minha esculturação. Não me sinto capaz de nada hoje. Nem profecias, nem sonhos, nem ânsias. Vou esperar o quê afinal? Quando nem sequer sei o que desejo… Sentimentos de profundo abandono, de incapacidade de me saciar, de receio dos comportamentos, meus, mas distantes, quantas vezes, do meu querer. Complexidade, palavra que me domina. Desejava a estima, quando reparo que eu mesma, incapaz de me ver e conhecer, não o faço. Porque será diferente para os outros, desligados do meu eu? Estou ainda tão longe do final. Canso-me por vezes. Não quero continuar. Cansa! Sou tão pouco. Procuro, tem razão, o mel em todos, porque tudo até aqui era amargo julguei agradável mas fantasiei o inexistente. Já tive mais? Até dessa realidade passada me duvido. Certo, única realidade – isto, o que me habita, sentimentos, são iguais e companheiros. Igualmente aqueles que pousei e inversamente pisaram as minhas asas, esses são constantes. Mudam roupagens rostos e corpos, mas são idênticos. Mas, estranhamente, do mal que causam eu espero resquícios de amor. Ela, não os substituiu porquê? Às vezes julgo não ser merecedora. Por que motivo? Porque não deram o básico, a base da pirâmide? Dela espero ainda hoje. Todos sufocam. Receio viver. Isto deve ser o fosso. Deverei arranjar condições possíveis á escalada até aos raios de luz, aquele sol quente que anseio e desconheço. Apenas gostava de saber acelerar o processo. É um turbilhão tão confuso tudo que tenho descoberto. Tudo, infelizmente, negro. Porquê? Precisava respostas. Nunca as terei exactas, no entanto. Vou abalar, mais uma vez, e estremeço o que me espera. É isto medo, terrível, de prosseguir. E se falhar? Serei realmente capaz? Verdade que até hoje, sozinha, caminhei, mais ou menos erecta pelos caminhos ruidosos. Julgo que, neste momento, nada diferenciará. Mas queria diferente. Tenho legitimidade para pedir? Quando quis, ninguém se esforçou por saciar. Pior, ninguém me reparou! Porque deles e seus intentos estavam cegos. Raiva! Como diluir?

Agora que há companhia, banal, pouco significativa, aprecio estar mas e amanhã? Estarão por cá também? Ou farão como o padrão, desaparecerão? Cansa estar sempre à procura daquele pólen. Porque não o tenho, simplesmente, de forma gratuita? Porque há quem o consiga, milagrosamente! Que método? Quero conhecer, mas, para isso, devo (não tenho outra via) experimentar. Cansada do sempre mesmo!