quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Sonhos Extremos


Durante todo o meu trajecto, desde a tomada de consciência de mim e dos outros, nasceu Amor por todos que me cercavam, e a aproximação era mais triunfante e animadora quando se tratavam daqueles, que por diversos motivos, eram marginalizados… diferentes etnias, pobreza, estética, distúrbios cognitivos… lindos humanos; os melhores! Foram e serão o epicentro e foco de toda a minha actuação, as pessoas, o impacto do meu mais singelo e inotável mover, com tamanha responsabilidade sobre o pensar e sentir daqueles que a mim entregam, tantas confidencialidades, dando-me temerosamente a sua maior relíquia – os seus afectos. Tendo ao meu cuidar maior preciosidade, até ao momento, agi sempre com total minúcia, cautelosamente, não falhando no percurso da minha viagem para que assim felizes ficassem aqueles que em mim confiaram. Procurei mimar convenientemente essa grande jóia, mas… por vezes desfalecia… tropeçava e por pouco não caía, já que o medo sobrepunha-se à minha tarefa e sentia perder, por momentos, as forças e a coragem de ter em mãos tamanha gentil fragilidade luminosa. Mas nessas alturas pensava: “Não posso, tenho de conseguir, tenho de enfrentar, tenho de demonstrar que mereço a confiança, que mereço um lugar!”, e conseguia erguer-me a tempo de evitar deitar por terra, à vista de todos, uma tão grande preciosidade. E sentia-me feliz, depois de passar pela ameaça… tudo que abala e desestabiliza, também nos faz ter mais garra e força sobre o solo, e continuar confiante em prosseguir viagem.
E o futuro? Serão felizes aqueles que ambiciosamente buscam o todo, o mais, o máximo, a riqueza e poder? Serão eles, verdadeiramente felizes? Ou serão eles que, ao fim de um dia marcado pela corrupção, se deitam sobre um travesseiro luxuoso e choram…? Serão? Porque chorarão, então? O mundo inteiro em suas mãos… tudo! Porque choram? Sentirão aquele vazio, aquela revolta, ou até culpa? Lembrar-se-ão daquele que maldisseram ou insultaram ontem, mendigo e vagabundo? Terão consciência para enxergar-se? Se se se pudessem observar nesses momentos de máxima frieza, talvez sentissem nojo… ou vergonha ?… Almoçar com a mulher mais badalada da cidade (eterna sequiosa de dinheiro fácil), ver pela vitrina tantos com fome; batem no vidro, o aspecto deles assustador, pingados de chuva, sujos e purificados de alma? Te enojam? Ou por eles sentes inveja? Liberdade, palavra já há tanto esquecida do teu vocabulário… vives para o trabalho… respiras ainda? Serás ainda humano? SER maior, criado por Ele para governar o mundo? Serás tu digno de ser chamado homem?????
Para mim, que me falte o “amor” dos corruptos, o poder, o dinheiro, fortuna, fama e glória… deixem-me ir apenas… para lá do horizonte… onde bombas rebentam e corpos caem como folhas de Outono sem poiso. Quero ir, sozinha, sorridente, curar feridas, aquelas piores… do coração, as que mais doem e que mais dificilmente cicatrizam. Dêem-me apenas mãos para pegar nos que amo, nos que são agora opacos, cinzentos e ofuscados pela tamanha distância. Me chamem, vou para lá… A maior dor da morte não é a tenra idade, mas sentir, no último instante a brevidade e inutilidade da vida e os quantos nos chamaram e não acudimos. Felicidade maior é viver para o que nos enchem e preenchem o peito de tal modo que nada mais há que possa alegrar mais – viver para vós, miseráveis, frios, pobres, famintos, dilacerados, amputados, negros de amor e pureza. Que Ele me permita ser FELIZ e assim, no último Adeus, soltar um cântico celestial que só os que amam conhecem, deixar a terra corrompida mas mesmo assim marcada pela minha passagem: a passagem estreita e cintilante do Bem Amar o Outro.

01 de Outubro de 2007