segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Rute

A tua chegada aconteceu naquele momento de viragem em que supôs nunca o viver. Conhecia a face de penumbra que tinha aprendido a habituar-me diante de todas as passagens vivenciais acontecidas. Julguei, a certo ponto desesperado, deixar de crer no bom, na amizade, no cuidar, na dádiva e no amor. Tornei-me descrente perante a felicidade que advém e é produto do estar com um outro. E foste ficando, com igual querer de ambas, permanecendo aqui, nesta esfera cilíndrica, inicialmente tão fechada, tão ausente de arestas e janelas sobre algo maior – o meu mundo. Ditaste-me caminhos e me fizeste perceber diferenças nas ideações e reflexões sobre este jogo encantador e monótono que de tanto cansar, anima – a vida. Jamais a esquecer a surpresa da tua entrega quando, na aparente solidão de braços em riste, consegui ver, isolado, o teu estendido. O braço de quem, informalmente, em contexto reservado e sem maiores entregas, invejei no destaque do conhecimento, produto de trabalho, fonte de saber, que foi conseguindo acumular num todo imenso que faz de ti assim, Rute. Aquela que surpreende em momentos de evasão, na liberdade de um palmar o que a vida de bom tem para oferecer, sem demais entraves, com entrega maior, numa constante procura de prazeres, coisas e outros. Num tão singular flutuar, na simplicidade de um espaço, no cerne de tudo, no labiríntico desassossego de agitação que a compraz. No ditar limites, na severidade tão quebradiça de um sorriso, afinal, fácil, dócil, meigo… não no atuar, mas no comportar, no simbolizar através do ato, mais autêntico. No abarcar gentes, em reunião, em convívios bons, na aventura de conhecer outros, na facilidade do erguer da desilusão, tão admiráveis! Na ânsia do conhecer, infinitas horas noturnas, vespertinas, na sonoridade de toldadas mentes em queda sobriedade… um paralelismo dicotómico digno de arte, a bem ser retratado um dia, quando lá fora te fizeres sentir.
Eis que, rotineiramente, me fazias chegar com um sorriso e um embalo desapegado a confortar as insaciedades de uma descontente. Sem espera de retorno, descomprometido, um bruto querer. Agora, no hábito de ti, de te saber perto, agora que entraste aqui, no círculo infinito de desconsolações e de torbulências, não te consigo apartar mais. Permanece e continua, através da tua bondade, a guiar passos de uma petís... essa que, deste lado, em quilómetros poucos afastada, te recorda num misto de saudade e ternura, esperando o amanhã para te rever e te felicitar, estender-te o que de melhor tenho, um ombro, na retribuiçao do incalculável.
De todas as confidências, em ti deposito toda a veracidade, pelo acúmulo de beldade que vejo em ti e me alumia.
Muito Obrigada! Felicidades!