segunda-feira, 9 de julho de 2007

Só Você!










Pelos desígnios do fado aclamar,
Mil primaveras de uma alma desolada
Enfim, nos teus olhos bem aventurada,
Para deles impossível apartar.

Saberá Deus tamanha saudade
Que do mor sentimento acresce,
Quando de ti nem o tom conhece,
Em tudo subtrai musicalidade.

Pois que da mais pura platonia,
Toda a ambição se subjaz,
Boca cerrada ao silêncio fogaz,
Se teu gesto intermitente me alumia.

08/07/2007

segunda-feira, 2 de julho de 2007

Passagens de uma Viragem da vida




Quantos são aqueles que vagueiam sem razão, por encruzilhadas, labirintos, teias sem saída, ruas obscuras e fraudulentas com a força de um mover sem fim e sem objectivo? Será o caso da maioria de nós? A vida, o seu propósito… será apenas viver uns anos, o mais confortável possível, somar glórias e vitórias cobiçadas com fervor? Para quê, afinal? Que rumo ou propósito nos deve guiar? A estética, a fortuna, a riqueza? Ou será a tão desejada Felicidade? A Felicidade deverá ser construída pelas mil léguas percorridas ou pelo lançar âncora sobre aquilo que nos faz encher mais o coração? E estar contente é sinónimo de ser Feliz? A meu ver, se diferenciam claramente na amplitude e alcance, mais a curto prazo no primeiro, ou seja, mais imediato, e a longo prazo, no segundo, só alcançado em anos latos da existência, quando nos olhamos ao espelho e nos felicitamos com um ser que, independentemente do número de rugas ou pigmentação, se vê interiormente belo! Não será esse então o propósito da existência? Ser Feliz, nos termos que enumerei? E sê-lo, será fácil? Não, pois os caminhos são sinuosos, montanhosos, escorregadios e indecifráveis. Porém só com o espírito de vitória alcançado, se chega ao cume mais supremo e depois de acabada a tarefa, em paz, contente, o rever com nostalgia tão bons momentos, carregados de mor emoção, de mor intensidade, mor prazer, se vivenciam tão reconfortantes sentimentos. Pois que, nestes momentos, todas as pequenas coisas, habitualmente banais e irreparáveis, se redobram em significados imensos. De facto, só quem luta vence, como um herói forte e hercúleo, de espada na mão, corajoso perante os desafios, as dificuldades, os piores inimigos, por vezes até gigantescos e terríveis, alcança a boa ventura, a feliz sorte, o enternecedor conforto.
Há momentos que nos obrigam a que sintamos mais forte necessidade de vestir os trajes de um bom cavaleiro, no feliz e bem aventurado momento que decidimos prosseguir uma meta mais honrada e mais sublime. No meu caso, vesti a bata branca, no último momento, e de coração cheio de amor, semeei-o àqueles que mais o fizeram por merecer: “Minhas crianças, que da maior saudade me deixai partir, recordando-vos sempre pequeninas quando, pela lei da vida, o deixardes de ser.” Amizades perdidas, novas achadas, saberemos entender o que nos rege com força suprema – o Destino! Momentos felizes, tantos, em fotos e molduras guardadas. Mas também por guerras se deve passar, nuvens negras de ameaça de aguaceiros pela urgência de, por fim, pôr termo ao grande sonho; desânimos, depressões e lágrimas de infortúnio: devem sentir-se, viver-se e resistir-se! De luta em luta, de guerra em guerra, de ferimentos e chagas, aí saberemos ser mais fortes e resistentes… passo-a-passo, muito teremos ainda que caminhar, o caminho avizinha-se longo, mas com passinhos aveludados de bebé, prosseguiremos firmes. Saberemos, a par e passo pronunciar com total certeza que em nós, vento nenhum abala, pois folha seca fomos, sujeitos aos seus rumos e direcções, tropeçando pelas rochas e esmagando as roupagens e, deste ensinamento abriremos os olhos ao mundo, esperançados e diremos enfim: VINI, VIDI, VICI!

“Cheio de Deus, não temo o que virá,
Pois, venha o que vier, nunca será
Maior do que a minha alma.”
Fernando Pessoa (séc. XX)