domingo, 28 de setembro de 2008

Momento de Amar


Rapaz tímido, reservado, passeia-se pelas ruas desconhecidas de uma cidade anónima e perante si, entre esquinas e becos obscuros, depara-se como um anjo, uma bela mulher, de cabelos ruivos, olhos de um azul marítimo, de expressão aventureira e jovial. Travaram uma conversa banal até que, apesar da negação da atracção mútua, acercam-se um do outro e selam um beijo apaixonado e inocente. Como naquela cidade desconhecida apenas o rapaz franzino iria permanecer por mais um dia, eis que ele diz que quando tudo na sua vida estivesse resolvido, em termos de estabilidade económica, um emprego capaz, viria buscá-la para viverem seu Amor. Falou-lhe de uma espera de cerca de seis anos, crente no poder do Amor além tempo e espaço. Eram jovens adultos, cada um na faixa dos 24 anos, talvez…
Ambos, em vidas separadas geográfica e fisicamente, entre relações desafortunadas, ao acaso ou pela obra de um destino ditador, acabaram por se encontrar acidentalmente por duas vezes mais. E o que marcara o encontro inicial, marcava também os encontros fortuitos que se seguiram. Do segundo encontro, ele deu-lhe a sua máquina fotográfica, a sua maior relíquia e com ela tornou-se uma artista fotográfica, encantando multidões, com retratos, alguns deles, de momentos dos seus breves enamoramentos. Despedidas tristes, não faladas, pois que as palavras destroem qualquer encanto… Para quê fazer promessas de uma vida que ambos tinham como incerta e instável?
Então é que o Amor, nos breves instantes passados juntos, avolumava-se de cada vez que se viam. Ele, Ollie, naquele grande dia, travando lutas com seu pensamento que lhe fugia para junto daquela moça mulher, Annie, no seu grande apogeu em termos de oportunidades de carreira, foi incapaz de reflectir, foi incapaz de fazer valorar perante os outros as suas ideias originais, terminando de mãos nos bolsos, desempregado, como há seis anos atrás.
Ele que antes já tinha adquirido independência, falhado, incapaz e vulnerável, regressa à casa dos pais, mas com um propósito feliz a preenchê-lo: a Annie. Mais uma vez, pelo acaso acidental como ao princípio aparenta, preenchendo o silêncio e a sua inércia, cruza-se com uma galeria de arte onde lhe sobressai instantaneamente fotos… não quaisquer fotografias, mas aquelas que ele tinha partilhado com Annie, naqueles fortuitos encontros ocasionais nos últimos seis anos. Pertenciam-lhe, faziam parte da história dele, agora com os seus 30 anos de idade… ela estava ali, bem perto dele, mas onde?! Inacreditável! Desencontro imperdoável à sorte! Mas como cada história de Amor se pauta por certas parâmetros, a espera por vê-la, perto da galeria de arte, não trouxe contentamento… a espera propositada não era possível entre eles… o incerto neles se dissolvia melhor.
Procurou-a então na sua morada, que já conhecia do encontro anterior, 2 anos antes. Cantou-lhe uma linda serenata: “Sou teu/ Faço parte de ti/ Não há espera para o nosso Amor/ Quero-te agora aqui…”, enquanto ela, cabisbaixa e emocionada, ganhava coragem para dizer algo inesperado: “Ollie, adorei a música, mas estou noiva!” Teria a história destes dois seres terminado ali? Sim, certamente! Ele vivendo na casa dos pais, como há 6 anos atrás, nas mesmas circunstâncias de dependência, solitário, desajeitado e triste, e ela casada com outro, tendo filhos belíssimos. Teria o destino desejado que tal acontecesse, depois de tantos cruzamentos inesperados e felizes? Ainda haveria tempo para os dois; para um “nós”?
“Annie, que se passa contigo?” – pergunta o seu noivo, estranhando o comportamento da sua bela e quase esposa, de uns dias até àquela parte. Ao que ela responde, surpreendendo-o: “Não quero mais casar contigo, John!”
Corre Annie, ele espera-te! Tentativas de contacto falhadas, morada desconhecida… Por favor, uma luz! A amiga de Annie, nesse dia tinha visto Ollie, mas como? Provando um fato de casamento?! Sim! Céus! Como é possível! “Annie, eu vi-o… ele vai casar-se… desculpa dizer-te”. “NÃO !!!” – grita coração, quando da razão não encontras justificação para a vida!
Annie, ainda assim, repensa uma despedida última e consegue a tão desejada morada de Ollie. Em fronte à sua casa, trémula, consegue distinguir ambiente cerimonioso… avista Ollie de longe, este a trespassa com seus olhos, incrédulo! “Annie, como estás?” – “Bem!... Desculpa ter aparecido sem avisar… Desculpa, não devia ter vindo!”… e foge, derrotada, desesperançada, sem nada que a suporte, cambaleante até seu carro, pronta para um novo “refazer” de insustentáveis esperanças alimentadas até sempre.
“Annie, por favor!” – era ele! Beija-a sem mais nada dizer… ela olha-o estupefacta. – “Não sou eu quem vai casar, Annie, é a minha irmã! Há tempo para nós, sim, não mais te largarei grande Amor da minha Vida!”. Futuro Feliz viveram, apreciando o tempo único e que nos escapa entre os dedos, tão volátil.
Para quê esperar? Se Amar não tem hora, nem momentos certos, nem é um objectivo a atingir após o tudo conseguido? Vive-o já ou perdê-lo-ás… Histórias de Amor como esta só nos filmes cor-de rosa!... Não resta tempo… o amanhã já é tarde demais! Vive e ama enquanto te for ainda possível fazê-lo!

Clara Conde
28/09/2008

2 comentários:

Anônimo disse...

Diz ao teu pai para fazer a introdução, parece-me a mim que isto agora vai começar a desenhar-se um livrinho :P Clara Conde, so premios internacionais...um dia lerei isto LOL :P gostei mt do texto, e para contadora de historias, olha q tens imenso jeito hehe :D

Beijaum

Clara Balsemão disse...
Este comentário foi removido pelo autor.