quarta-feira, 2 de maio de 2007

Poesias










A Busca da Felicidade

Procuro no silêncio da madrugada
No labirinto denso de aves chilreando
Na claridade ternurenta do sol,
Que docemente beija meu rosto,
O vulto imaculado e celeste;
As mãos brancura divina,
De olhos puros incandescentes
De uma chama oculta
Que incendeia o seu coração de ouro.
Dissipasse veloz e relampejante.
Busco por ela;
Não controlo meus movimentos,
Sinto-me presa à noite;
Perde a vida o sol,
Vislumbra-se um céu sombrio e frio
Renasce a tristeza, de novo surgem as lágrimas
Que por meus olhos cobrem mil fontes de terror…
Incansavelmente sigo em frente,
Sinto uma coragem imensurável,
Caminho confiante sobre o verde…
Quero retomar o sorriso da criança celeste
Que enfeitiçou meu olhar
Me colorou o meu viver
Me cedeu forças para arrancar do peito
O majestoso peso do tormento…
Ei-la!... Abraço-a e sinto a paz;
Me oferta o amor, me cede ânimo.
Pergunto seu nome:
De voz doce e angelical me diz: “Felicidade”.
16/07/2001





És…

Uma brisa celestial
Que beijou meu rosto
Secando a lágrima triste
E dissolvendo o coração sólido
De um amor passado sempre ausente.

És a estrela que brilha em mim,
Ilumina o meu viver,
Com teu gesto cintilante e belo,
És coragem para um futuro
Que junto contigo quero viver.
21/01/2003



Desejos

Quisera eu ser o mar que tu contemplas
Para poder gozar do teu olhar
Fascinante de beleza e ternura;
Poder perder-me pelo oceano,
Ondular pelas areias,
Suar pelas rochas,
De tanta felicidade,
Tanto Amor,
Tanta vontade de ter-te
Juntinho a mim.
21/01/2003



Sozinha vagueio pela noite
No sepulcro de minha vida perdida
Procuro no meu inviável peito
Escombros de uma alma esquecida.

Escurecida minha vida tornei
Coberta de engenhos de horror
Meu coração sufoquei
Com ilusão de (falso) amor.

Nuvens negras que enlutais minha vida
Permaneçam cinzentas com o meu passo
Entristeçai a manhã colorida
Façai de mim vilã preferida.

Porque meus olhos de vida solitária
Regam minhas faces com fonte de impurezas
Desnudam a minha mente sanguinária
Com recordações de um passado de asperezas.
19/07/2001

Carências

Sofrimento por se perder quem se teve,
Néctar luzidio da existência
Dissipado, desaparecido,
Coração despedaçado, sofrido
Amor pela vida esvanescido.

Vida cruel, dolorosa
Forças constantes, resultado nulo,
Esperança enfraquecida
Humano solitário, sempre esperançado
Futuro feliz vindouro, desejado.

Pulsar inútil
Sorriso, máscara de fingimento
Aparente ocultar de ventura,
Futuro prazeroso, amado,
Tardado…, jamais alcançado!
10/02/2005


Amigos são…

Motivo de pulsar
Felicidade ofertar
Preciosidade humanas
Cujo sofrimento serena.

Companhias constantes
“Irmãos” presentes
Néctar divino
Bem-querer cristalino.

Anjos celestes
No meu coração cintilantes
Luz de existência
Guias de experiência.

Jamais esquecidos
Para sempre mantidos
Vocês minha vida
Por vocês eternamente agradecida.
11/02/2005

Mãe

Páginas em branco de uma vida
Ingénua e inocente,
Pinceladas de Amor preenchidas,
Ao sabor da tua alegria comovente!

Saiba Deus tamanho querer,
Que uma mãe floresce,
Em seu ventre nascer,
Esperança mundo melhor rejuvenesce!

Eu, fruto de mor cuidar,
Umbilical união,
Intemporal amar,
Sempre junto a ti, gratidão!
29/04/2007

Amor sem Limites

Uma tempestade de amor passageira
Arrebatadora, avassaladora
Disseminadora de prantos
Destruidora de encantos.

Sorriso perdido, olhar desventurado
Soluçar queixoso, gemido sofrido
Corpo nu, renegado, abandonado,
Em teus braços acolhido.

Que da maior pureza de Amor
O tempo esquece, o encanto nasce,
Humano encantador, sonhador
Inevitável paixão cresce.

Venham ventos e tempestades
Águas mil e almas mal-amadas
Que amor como este, ardente
Jamais o mundo desmente.
14/02/2006

A Arte de Viver


Somos uma tela nua quando nascemos. Reclamamos ao mundo uma cor, uma textura, um movimento, um espaço… Na pureza da infância, marcamos esboços, construímos linhas toscas, distorcidas, pouco nítidas, disformes… Aos olhos do artista somos pintados de azul céu, vermelho vida, amarelo alegria e cinzento indefinição. Crescemos, e desejamos pintar a nossa vida em tons coloridos, vivazes, reluzentes, invulgares… ser-se jovem é ser-se irreverente e destemido… não há limites! As cores do mundo não conseguem definir a multidão de sentimentos, afectos, carências, desgostos, desventuras, confusões e soluçares tristes da adolescência. A tela está negra agora… o futuro parece longínquo e demasiadamente difícil de alcançar… os dias lilazes, as horas roxas, os amigos a máxima sinfonia… Somos tudo, o mundo! Porém a vida, aquela da infância fogaz e pura, se desfez e deu lugar à sombra… É tudo tão insuportável! Ouvem-se ao longe gritos de terror, de desventura, de desânimo, de perdição. A vida só aos fortes pertence! Radicaliza-te, evidencia-te, mostra que és mais e melhor que todos… não cruzes os braços… o tempo é ligeiro, amigo, mas perdível! Tudo é tão temível! O fruto da vida, os pais, ainda lhes cheira ao leitinho bem quente do bebé, já a semente se revolta contra eles e balança pelo ar, ao som do vento… colhe tempestades, tumultos, vagueia sem razão… cheira agora a acre, asfalto quente, verde impalidecer, amargo sentir. Mas para onde me leva o vento?… a minha tela, tão negra! Pinta-me de outra cor, artista, pois já não aguento mais!!! E soltasse a voz áspera, mas forte, de força aguçada pela maior razão. Puf! Livrei-me! Por pouco não voava para paragens incertas e destruía as minhas ramagens. As minhas raízes? Onde estão? Perdi-as? Não! Não!... Estão comigo, pertencem-me, são a minha marca única, a minha impressão digital. Meus pais, perdoem-me, precisei viajar! Hum! Que bom o regresso ao Lar… oh mamã, te amo tanto! Oh papá, te admiro… és tu o traçado da minha viagem que quero seguir! Ajudas-me? Quero aprender… saber mais, conhecer, conhecer, conhecer… a tela é cinzenta lá bem atrás, mas repara, vê melhor… que lindo laranja aqui! Agrada-me o laranja… mas também o amarelo… qual seguir? Hum… será que em mim existe lugar para tanto? Ai, mas prefiro o laranja… sim, é com o laranja que quero pintar, bem forte, a minha vida! Ouço já tantas crianças sorrindo… ai que bom é ouvi-las! Há pouco choravam… esperem, já vou a caminho… vos embalarei a todas, minhas doces esperanças! Ai, mas porque ouço tantas a chorar?… é tão aflitivo o som… respiro fundo e… não! Sangue não!!! Não, não morras! Não, não sofras! Quero ajudar-te… diz-me, basta dizeres-me, o que queres de mim? Farei tudo por ti, porque sou eu, aquela leve madrugada primaveril, sabes, aquela que tem muita luz?! Eu sou capaz! Vem comigo! VENHAM TODOS! Ui, são tantos… e tanto pranto… ai que não aguento… sinto a dor deles todos, quase desfaleço. O som do tambor, da sirene, do alarme… a ambulância! Aqui! Me levem! Socorro! Não, não posso ir mais além, quem sou eu? Eu sou aquilo que tu não és, nem tu, nem tu, nem tu… Ah, não vos pertenço! Agora percebo! Aquela andorinha picou-me a asa no outro dia… piei, piei… ninguém acudiu! Mas o que se passou com eles? Fugiram? Se calhar já encontraram outro ninho melhor do que o meu… Não se vão embora, quero-vos aqui comigo! Porque me deixais? O vento sopra frio… agora já não consigo voar, nem posso procurar por eles… perdi-os! Tenho frio! Porque me picaste a asa? És ruim! Esqueceste-te do que fiz por ti? Ingrata! Quando te perdeste da andorinha mãe, velei por ti e levei-te ao encontro dela… Esqueceste-te? Não, não vale a pena, ninguém responde… que silêncio desesperante! Não! Ganharei forças, sozinha, e semearei amor, mas só a quem mereça! Nem que apenas haja, no mundo, no oceano, uma gentil alma, já tudo vale a pena… ela merece e vou ajudá-la! Já se vê, na tela, borboletas…como elas mudam! Tão bonitas! Será que também eu me mudarei? Xi! De que maneira! Não te lembras como eras há uma década atrás? Tão tenrinha, tão suave, tão frágil…Agora já não! Olha bem para ti, esse coracãozinho cheiinho de cicatrizes. Ainda te doem? – Um pouco. – Deixa, isso passa; repara bem que se tornou mais forte! Vês, tudo na vida tem o seu lado bom… tudo, tudo, acredita! Hi, que se passa comigo? Estou a virar lagarta? A minha pele está a ficar tão enrugada! Que feia! Oh pintor, passa aqui um blush, por favor! E silicone, já agora… até já a água repelo! Mas, quem são estes aqui ao meu lado… que coisa, não me largam! – “Oh Maria, és tão esquecida, não vês que são os nossos filhos!” – Ups! Pois são! Tão pequeninos… e se os machuco? Têm asas tão lindas, tão cheias de cor… e olhos grandes, negros, parecem magnetite. Como vos quero bem, meus rebentos! Vinde à mãe! A mãe ensina-vos a voar, só um bocadinho, está bem?… depois terão que partir, seguir o vosso próprio rumo, a vossa ramagem. E a tela, como está agora? Vou-lhe confessar, pintor, você tem cá um jeitaço! Está aí uma obra de arte! Tantas linhas compridas, escuras e claras, coloridas e reluzentes, transparentes e ocultas… por onde quer seguir agora? - Não sei, mas parece que me falta alguma coisa… cheira-me a fresco, inacabado, entendes? – Posso dar-lhe uma dica? – Diga, diga! – Falta o diamante, sim, o diamante… – Ora bolas, como poderia eu ter-me esquecido do diamante! Aquele cheirinho a chá de tília, bem quente, a ferver, junto à lareira… ai que bem que se está à lareira… doem-me as costas, não sei como hei-de estar! E esta artrose, que me consome! Neto, vai apagar o lume, senão dou cabo dos legumes! Já me custa a levantar, minha jóia! Vá, agora anda cá que eu conto-te uma história de quando era novinha… uma pequena joanina, muito perfeitinha, todos me adoravam! Ah, que bons tempos! E o teu papá, onde está? Já à tanto tempo que não vos vejo, meus filhos! Sois a minha riqueza, o único motivo de pulsar… e os netinhos também, é claro! Que saudades tenho dos meus pais… que Deus os tenha em eterno descanso! Que velem por mim que não tarda lhes farei companhia lá… no alto… dizem que aquilo é bonito… tem “spã” e tudo! Hihi! Que espere mais um pouco… já vou! Não há pressa nenhuma! Estou enternecida com esta música… escuta! Dos meus tempos de mocidade! Se não fosse esta vista que já não vê uma agulha no palheiro até lia um bocado. Enfim… faço um croché! Pior ainda! Oh meu rico netinho, anda cá à avó de preto, conto-te uma história: “Era uma vez um rio, muito comprido… que comprido que ele era!… medonho até… tinha muitos afluentes, regava os campos de trigo, as vinhas e oliveiras e a água era tão boa, tão doce, tão fresquinha! Todos a bebiam. Até chegaram a dizer “Nunca digas desta água não beberei”… chamavam-lhe a fonte dos amores! Quem a bebesse, parece que revitalizava, ficava jovem, alegre, transformava-se, apaixonava-se… No fundo do rio não haviam calhãos, nada disso, mas sim pirites, ametistas, ágatas, quartzos delicados, mica… que bem que brilhava! Um dia, passados anos e anos a molhar muitas bocas, a humedecer muitas sedes, a regar muitas plantinhas campestres, como os girassóis, as papoilas… secou! Que falta fez! Tanto choraram, tanto horror, tanta exaltação, tantos gritos, tanta negação, tanta revolta e incredulidade… mas secou, secou… acabou! Nada dura para sempre, tudo tem um fim… mas a vida de outros continua! Engraçado… o rio secou, mas aquelas pedras, minerais, rochas… que lindas! Pois é, a fonte seca, mas a alma não esquece o que é de bom, e as memórias ganham vida própria e sorriem-nos, naquele prado rochoso e verde, de braço no ar, acenando, dizendo “Até já, te guardarei para sempre!””. Que belo perfume a rosas, as aves chilreiam alegres, que tela linda… perfeita agora! Bravo, meu artista!