sábado, 28 de junho de 2008

Perdida










Espinhosos labirintos
Cercados de cansaço
Cumes altos
Vales em tropeço

Cicatrizes em rostos
Dores de inchaço
Ilusões de pensamentos
Limite no puro acesso

Destinos incultos
Quem nasce no poço
Tentativa d’ elevamentos
Inocente moço…

Teus cumprimentos
Terás percalço
A passinhos indispostos
Teu manto, vivaço!

Clara Conde
28/06/2008

terça-feira, 17 de junho de 2008

Perspectivar a Morte


Nascemos no seio de um ventre materno, acolhidos na mais fina plumagem, aquecidos com amor, habituamo-nos a rostos mais significativos, nossas lágrimas são secadas, os choros afagados e, embrulhados num crescimento espontâneo e cada vez mais vigoroso esquecemos da essência da vida. Viveremos com algum propósito? Porque nascemos e vivemos? Nasceremos para morrer? Uma única experiencia de conhecer o mundo, sem que daí resulte nada de importante? Que nascemos ao acaso e depois da morte, entregues à terra, tudo ali acaba?
Prefiro pensar que a vida tem um propósito, que nascemos, cada um, com uma missão a cumprir, algo que devemos construir aqui, deixando um legado positivo aquando do nosso fim. Que se há vida, há uma tarefa, que cada um tem que deixar marcas positivas no mundo, ou pelo menos, experimentar-se neste palco, conhecer os seus limites, as dificuldades humanas, a felicidade… virmos até cá para sentirmos! O mundo todos nós o fazemos da forma que mais apreciamos, e se este se destrói e corrompe, os únicos culpados somos todos nós… nós enquanto filhos, enquanto pais, enquanto amigos, enquanto trabalhadores, enquanto avós… porque todos somos capazes de nos influenciar mutuamente, e se houver espírito de entre-ajuda entre todos, ninguém se corrompia, ninguém corrompia o mundo. Se todos nós soubessemos ouvir a voz interior, a que vem do coração, aquela que apenas sussura bem baixinho, aquela que chamam de “consciência”, saberíamos escolher o caminho certo, da rectidão de comportamento, da máxima dos valores humanos e espirituais, sermos pessoas melhores, mais ricos.
Pois que todos temos uma tarefa e missão a cumprir, imposta à nascença, há aqueles que na aprendizagem de mais sabedoria, têm missões mais duradouras, mais ásperas, mais dolorosas; outros há que têm missões curtas, que deixaram o seu cheirinho pelo ar e se foram para parte incerta. Missões leves e pesadas, curtas e prolongadas, há que saber aceitar que ninguém é eterno e que, mais importante que a presença física, é a presença espiritual, guardarmos uma pessoa dentro de nós por toda a eternidade, recordarmo-la no nosso coração e cultiva-la de amor. Porque, fisicamente, pela imperfeição humana típica, erramos e magoamos os que mais amamos; deixamos que o tempo passe sem que valorizemos cada segundo passado com uma pessoa querida, aprendemos a trivializar as situações, os momentos, a julgar que a vida é eterna, que há ainda muito tempo para gozar da companhia de quem gostamos e, quando nos apercebemos, perdemo-la. Mas espirituamente, temos sempre a imagem daquela pessoa, o seu sorriso, a sua alegria, a sua maneira de ser única, os momentos recordados num recanto de relíquias no nosso coração, e assim permanece, sempre jovem, bonita, saudável e feliz até que a nossa memória também se esvaia e dê lugar à morte, única certeza. E assim se processa, em ciclo vicioso, perpectuando a presença já não existente uns dos outros durante anos a fio. Passamos a memória para os filhos, os filhos para netos e a memória, quando de amor se trata nunca se desgasta com o tempo.
Saibamos aceitar a lei da vida, aquilo que por mais que a ciência e inteligência humana evolua, por mais que a cirurgia plástica faça maravilhas e milagres, nunca, jamais, conseguiremos fugir à única certeza que temos – a morte. A nossa morte, a morte dos nossos familiares, dos nossos amigos, dos nossos maridos/esposas, dos nossos filhos, netos… Cumprida a missão, que ninguém, por mais que tente saberá exactamente qual é, partimos todos, entendendo que até lá há que valorizar mais o tempo passado com os que mais amamos, não perdermos tempo com mágoas do passado, aprender a amar todos, perdoar, ajudar a caminhar quem está perdido e dedicarmo-nos mais aos outros e fazermos por, nesta breve passagem de vida, construirmos um mundo melhor, com esforço uníssono.

Artística forma de Ser


Inovador e muito pessoal esta maneira de pensar que existe uma artística forma de ser, ou uma personalidade artística. Aqueles que sonham acerca de ideias, que facilmente se abstraem do real, que vivem insaciáveis, que cobrem seu coração de palavras recordadas, gestos sentidos, momentos eternos, pessoas inesquecíveis, e as pintam em telas, em papeis com esferográficas, num piano, num órgão, numa escultura.
Ser-se voltado para a arte, é sofrer, porque maior parte das vezes são pessoas com uma sensibilidade refinada, doces criaturas, que sofrem por si, pelos outros, pelo mundo que os rodeia. Que vivem em agonia, que nunca são verdadeiramente felizes, pois que a felicidade não vem só deles, vem de todos que conhece e aprecia. Ama e afeiçoa-se com facilidade e vê nos outros sempre a pureza infantil de uma criança incapaz de provocar qualquer dano… e sofrem tremendas desilusões, porque o mundo embora corrompido, não é encarado dessa forma, porque se o fosse, se o olhar fosse objectivo, a pessoa deixaria de ter motivos para sorrir, para sonhar, para escrever, para recitar, para pintar, para ensaiar, para esculpir… Porque é sempre um desejo eterno viver num mundo perfeito, com pessoas perfeitas, onde a paz reina, onde tudo é belo como nas telas pintadas, onde o sol reina todo o ano e todos são vistos de igual forma e semelhança. É uma vontade de fazer mil escolhas, cada uma onde se emprega tantos mil carinhos e cuidados, é querer, sonhar diversas, inúmeras, indecifráveis e incalculáveis formas de chegar até aos outros e lhes dar um carinho no momento certo, é querer reanimar o mundo morto e torná-lo rico em jóias humanas, é querer ajudar a todos descurando de si mesmo.
É um querer falar, sem ter voz, nem boca, nem vontade, nem talento; é um escrever desabafo, palavras que de soltas confundem outros tantos, alegram outros demais, entristecem outras sensibilidades, desprezadas por tantos outros… a maioria! É querer falar, é querer alertar para aquilo que o mundo parece não saber, é querer chegar a todos, de mil formas, e dar-lhes um rumo, uma vocação de vida.
É aquele pensamento que até no sono mais profundo não pára e dá voltas e voltas, sonhando mundos belos, cultivando flores inexistentes, é fazer do pensamento instrumento de cultivo e viver na eterna solidão, de si para si, pois que raros são os que padecem desta artística forma de ser, raros são os que compreendem, raros são os que acompanham os pensamentos sem considerarem tolice… Tristeza de viver num constante sentir de só viver, refugiado em si, no seu canto, em torno do seu mundo, impenetrável, desconhecido, inviolável, puro, redoma fina que tece as linhas do pensamento e do sentir, tão dispares de todos, que esconde o ser real, que pincela as telas, se manifesta em encenações, em esculturas, na escrita… no olhar! Já tão pouco visto, observado, pensado, reflectido, questionável! Todos aceitam todos, mas ninguém aceita nenhum a não ser ele mesmo.
Confusão de estar rodeado de pessoas, que se alegram com tua máscara de alegria, que se sentem cativados, lhes despertas encantos mil, mas o teu ser, esse sempre encoberto, a ninguém desvendas. Sofres enquanto escutas as vozes de amigos, sofres enquanto reúnes família em convívio, sofres por não poder falar, pela tua boca não servir aos ouvidos de ninguém, sofres pela incompreensão do social, sofres o infortúnio de não te reveres num mundo tão insano, sofres por desejares o que em tuas mãos e acções únicas jamais poderá ser conseguido.
Apelas aos outros, tentas fazer-te compreender… latim gasto, em palavras que nunca parecem ser vindas de dentro, palavras que de si são supérfluas, leva-as o vento, não carregam em si o sentimento do coração de quem as pronuncia, não expandem a alma, não indicam a realidade sonhada de um ser estranho, de um ser solitário, de um ser que aprendeu que só pode contar consigo para todo o sempre, pois que de tamanha singularidade, ninguém o poderá compreender e afagar.

Futuro das Novas Gerações


Se às novas gerações, crianças e jovens de agora, se diz estar o futuro do mundo, nunca será perda de tempo pensar em como elas se caracterizam, para assim estimarmos o mundo de amanhã, que a maioria de nós, que lê este artigo, já não verá, mas de qualquer forma, idealmente, nos deveria inquietar, por desejarmos que nossos rebentos vivam no melhor que o mundo e a sociedade pode dar.
Alunos que maltratam professores, meninas de 12 anos grávidas, rapazes de 14 anos a fumar tabaco, marijuana ou até mesmo já heroína, filhos que batem aos próprios pais, lhes levantam a voz, por vezes até usam um pouco de chantagem emocional para conseguirem o que querem (i.e., “ou me compras produto X ou me mato”) … e tantos outros casos, que todos conhecemos e lamentamos sempre que as nossas memórias se deixam flutuar para um passado em que havia respeito pelos pais, total obediência para com os professores, respeito pelos mais idosos (modelos de sabedoria), em que havia uma moral muito mais vincada que se reflectia tanto no modo de vestir, como na forma de falar, como nos comportamentos sexuais e outros e que, infelizmente, nos tempos que correm, parecem ter evaporado.
Haverá culpados? Perdoem se firo alguma susceptibilidade, mas há um culpado principal de todo este degredo social estar a acontecer – a educação, principalmente dos pais e, secundariamente, dos professores. Porque ao contrário do que se possa pensar, a educação, embora possa acontecer na escola, onde os alunos passam grande parte do seu tempo, isso não implica que os pais descurem do seu papel essencial de educadores de uma geração futura que, com certeza, todos queremos que seja o mais pacífica e harmoniosa possível. Na escola também se aprendem muitos valores sociais e os professores, de hoje em dia, têm que saber dar-se ao respeito, não usarem a forma de autoritarismo de “laissez faire”, pois estarão a prejudicar os alunos que leccionam, em primeiro plano, e seus filhos ou netos, em segundo plano. Pois que todos nós nos influenciamos uns aos outros, um acto de alguém repercute-se mais tarde noutro alguém, pode não ser no mesmo momento temporal, mas a médio/longo prazo ele chegará até nós. Por isso, não sejamos egoístas, pensemos que somos um todo, e não apenas um só, com actos puramente individuais, sem haver uma teia social onde tudo se circunscreve, o bom e o mal que fazemos.
Pais, reflictam nos seus comportamentos, quem impõe regras em casa? Vocês, como pais, ou serão já os vossos filhos que, usando das mais diversas estratégias, vos usam para ter aquilo que querem, porque nunca foram habituados a ter como resposta um “não”? Nenhum pai é capaz de dizer que erra na sua educação, nem quero que me interpretem mal no sentido de que se tratam de maus pais, apenas quero alertar para o que fazem e para o que deveriam talvez mudar para que os seus filhos se tornassem mais obedientes e orientados para o social, já estruturado, mas que poderá vir a sofrer grandes alterações negativas (se é que já não sofreu), com a sucessão de maus exemplos e erros cometidos pelos pais, aqueles que melhor poderão orientar um ser que não sabe nada do mundo e que com regras e condicionamentos, se poderá tornar um melhor cidadão, um melhor filho, um melhor marido ou uma melhor esposa, um melhor trabalhador, uma pessoa melhor, no sentido mais lato.
E saber bem educar o que é, afinal? Porque sei compreender que muitas vezes se peca por desconhecimento e aí não há qualquer culpa a colocar a ninguém. Educar é saber dirigir, impor regras, estabelecer horários, uma rotina diária, deixar bem claro quem “manda” e quem deverá ser “mandado”, saber dar gratificações nos momentos de sucesso, mas também lhes retirar regalias quando não cumpre os seus direitos como filho, como irmão, como aluno, como pessoa em sociedade. A punição não é a melhor solução, mas por vezes, há momentos que tem que ser usada, quando a criança extrapolou todas as barreiras do bom senso. De qualquer forma, deverá evitar-se. Doi mais retirar uma regalia durante uma semana ou quinze dias, do que propriamente levar uma “tapadinha” na cara. O importante é saber, enquanto pais, demonstrarmos que mesmo enquanto estamos a punir um filho nosso, o continuamos a amar e que por mais erros que cometa, são a felicidade das nossas vidas. Fazê-los ter amor próprio, dar-lhes oportunidades de mestria nas áreas que revelam ter mais talento, uma recompensa pelos sucessos, um beijinho, uma palavra meiga, muitos carinhos. Desde criança, o essencial é sempre ensiná-los aquilo que rege toda a nossa vida e pela qual nos devemos sempre guiar: o Amor! Amem os pais, os familiares de forma mais alargada, amem os amigos, amem a comunidade, a sociedade, o mundo e mais importante que tudo, que se amem a si mesmos como ponto principal e, quiçá, mais difícil de concretizar.

Anseio de Ser Feliz


Afinal o que tanto procuramos na vida? Um bom emprego? Um bom carro? Casar com um marido/esposa carinhosos, inteligentes, trabalhadores, compreensivos, atenciosos? Ter uma bela casa, com vista para um jardim enorme, coberto das melhores e mais formosas e atractivas flores? Ter filhos educados, sempre correctos, os melhores alunos da turma, queridos por toda a comunidade? Ter muito dinheiro, para poder gastar em viagens, em luxúrias, em ouro, em roupa de marca, em perfumes dos mais famosos? Ter boa saúde, bons médicos especialistas, os melhores do país ao nosso alcance? Ter prestígio social, ser afamado, bem falado por todos; ser o herói da região?
Desafio colocar estas questões a todos quanto leiam este artigo para que reflictam se, realmente, a FELICIDADE se encontrava aqui, caso fosse possível responder afirmativamente a cada uma das perguntas.
Pois há quem goze no mundo de todas estas prestigiosas bênçãos, mas eu perguntar-lhes-ia, se me fosse possível fazê-lo, se são felizes, sabendo de antemão que as respostas seriam negativas, ou, por uma questão de viés social, dissessem enganosamente que sim.
Pois então, o que poderá faltar para que a felicidade seja possível a estas pessoas em particular, e a todos nós em geral? Vivemos uma vida tão carregada de ideias, de projectos, de anseios, de objectivos, de ambições, de stress, que nos esquecemos do que afinal, ambicionamos REALMENTE do mundo, da vida. Seriamos felizes com a ostentação e todos os bens materiais possíveis? Quem assim pensa, nunca esqueça que o homem é um animal que nunca se satisfaz, e que quanto mais tem, mais quer, e o limite é o infinito. A ambição corrói-nos por dentro, porque vivemos só para mostrarmos aos outros quem somos, o nosso estatuto, o nosso dinheiro, para que nos invejem. E será bom sinal invejarem-nos pelo que temos à vista de qualquer um, ou seria melhor que nos invejassem por aquilo que riqueza nenhuma no mundo compra: a riqueza interior. Pois que esquecemos que viver não é adquirir bens materiais, mas sim adquirir bens espirituais, ou seja, aprendermos com os ensinamentos e muitas vezes durezas da vida, as qualidades maiores de um ser humano: ser solidário, ser simpático, ser humano, ser imparcial, ser humilde, ser simples, ser honesto, ser sensato, ser capaz de perdoar, ser sincero, ser integro, ser afável com o rico e o pobre, ser fiel a si mesmo e aos seus princípios.
Religiões várias, que em guerras envolvidas, naquilo que loucamente chamam a tentativa de alcance da paz, todas elas são boas, todas elas nos trazem ensinamentos acerca do bom viver, todas são formas de socorro em momentos de aflição, todas querem que vivamos a tal chamada FELICIDADE, que de tão extensa sintacticamente, igualmente revela a dificuldade enorme em a alcançarmos.
Pensemos que somos todos filhos de Deus, criados à sua imagem e semelhança e que cumprimos no mundo os seus desígnios. Somos criaturas como ele porque a cada um deu um grau de perfeição e santidade e é através de nós que ele quer que saibamos o que é sentir a tristeza, a agonia, a amargura, a inveja, a cobiça, a gula, a luxúria, a alegria… E ao experimentarmos cada um destes sentimentos, estamos a oferecer-lhe a oportunidade de ele saber o que é de facto ser-se humano. E não é ao acaso que vivemos aqui, num mundo que se vai degradando com os anos, é para que aprendamos não só o que é isso de se ser feliz, como alcançar, através de vitórias e derrotas, sabedoria suficiente para ensinar às próximas gerações que a terra é para se amar e estimar, pois que é finita.
Podemos também pensar que Felicidade não é mais do que o alcance de um tal estado de espiritualidade que nos torna sábios. Se há quem pense que vivemos vidas várias, também poderá pensar que se o fazemos é com o propósito de em cada vida ou etapa da existência termos a oportunidade, uma vez mais, de nos tornarmos cada vez melhores, como pessoas, a nível de espiritualidade. E então aí, após vidas sucessivas em que experimentamos as mais variadas condições humanas, de pobreza, miséria, riqueza, alegria, tristeza, amargura, dor, sofrimento, poderemos alcancemos um dia o patamar máximo de “perfeição”. Daí, se repararmos, encontrarmos-nos com pessoas que cruzam nossas vidas e que nos apercebemos que são mais ou menos maduras em termos de riqueza espiritual, comprovada pelos seus comportamentos, pela sua maneira de estar, pela sua personalidade. Há aquelas que recorremos para nos aconselhar, que nos cedem paz que, no nosso inconsciente, gostamos de pensar que são anjos, já que nos adivinham pensamentos, sentimentos e nos cedem ajuda na hora e momento oportunos, como se adivinhassem o que vai em nós. Outras pessoas há que, imaturas, jovens, novatas neste palco de experimentação de vida múltipla, corrompem, não são capazes de perdoar, magoam sem sentir dó, são egoístas, procuram e fazem mal aos outros… Mas de facto, quem segue este rumo, nunca é feliz. Se te cruzares com uma pessoa que se vangloriza, se auto-elogia, se cobre de fantasias, demonstra uma estranha dureza face à vida e face aos problemas, que se esconde numa máscara de aparente felicidade, de boa sorte em todos os sectores da vida, sorri o sofrimento dos outros, ou pisa quem chora, essa pessoa é quem mais sofre e quem mais tem problemas de auto-valorização pessoal. Grande parte das vezes, os mais felizes são aqueles que encontramos na rua, vestidos com modéstia, com empregos precários, com uma família sem riqueza, mas que trazem no olhar um brilho fantástico, facilmente reconhecível pelos mais atentos, que esboçam um sorriso perante uma flor, um pássaro que por ele passa a chilrear, uma árvore que se debruça para o acobertar do sol, um carinho de uma criança, um rebuçado que dá, um aperto de mão que cumprimenta, um abraço apertado e amado cada dia à sua esposa… é esse quem sabe que ser-se feliz está no que a natureza oferenda, nos impulsos mais insconscientes que seguimos, num olhar, num momento, na ternura do silêncio, no escutar o ondear das ondas numa praia, no escutar o vento batendo na nossa janela de casa, cumprimentando-nos, no sol que espreita todas as manhãs, convidando a apreciá-lo. Ser feliz não é mais que AMAR a nós mesmos, amarmos os outros e amarmos a Natureza. Tão simples, tão doce, tão leve, tão gentil, tão passageiro, este sonhar ser feliz, quando em nossas mãos está o caminho…

Ser-se Psicólogo


Não apenas uma profissão… mais uma missão… missão de existir para escutar, ajudar, animar, dar afecto, compreender, interpretar. É desequilibrada, o peso de quem padece se transporta para aquele que, como psicólogo, foi treinado para bem ouvir. Ingrata profissão, não és apenas um, és todos aqueles que a ti se te dirigem, na desesperança, na agonia, no desespero, na loucura, na solidão major. Carregas ao ombro tantas cabeças destorcidas, tantos corações sós, oprimidos, traumatizados. Carregas a dor de todos, e ainda assim existes tu, a tua vida própria, por vezes tão ou mais desesperante mas que despercebida passa por todos que tentas apoiar. Psicólogo nunca tem problemas, assim julgam todos, não é apenas amigo, é psicólogo; não foi destinado para desabafar o que sente, por mais graves que sejam seus problemas, por mais difícil que seja sua vida, apenas serve para socorrer gentes pobres de amor. Um psicólogo guarda escondido em si sua alma, pois que vive a vida apenas dos outros e a sua é sempre descurada. Psicólogo tem que saber agir, porque estudou, sabe que métodos há para sair do poço, para evitar o naufrágio, sabe os erros que comete e sabe como corrigi-los, mas nunca no mundo digam que existem psicólogos perfeitos. Mas porquê? Profissão que aniquila um ser humano que está por detrás, o afasta, o desvaloriza, o impede de falar, de gritar, de sentir, sofrer, rir e ser feliz. Em momentos amargos, iludido, procura alguém para abrir sua alma tão pobre de amor-próprio, tão sedenta de carinho, tão tosca como obra de arte desistida e encontra de lá a incompreensão, a falta de um ouvir atento, o minimizar do sofrer. Porque não é correcto nem sensato pensar que um psicólogo tem problemas… um psicólogo é como um caixeiro viajante que carrega em si o peso do mundo e com isso, mais a sua dor, caminha a paços cambaleantes e trôpegos, pelo mundo, onde nunca lhe é permitido errar, nem ser feliz.Felicidade haverá contudo, quando psicólogo se é por vocação, quando existe uma entrega total ao outro, aceitando, como um seminarista tornando-se padre, votos de castidade e resignação. Quando de consciência se actua, ignorando o próprio ser, é-se feliz por tão só ver a felicidade dos outros, por fazer com que de uma ruína humana abandonada, se construa um monumento triunfante, belo, equilibrado e enaltecido. Jamais alguém, por mais que faça, que construa, que se esforce, por mais dinheiro que possua, por mais “amigos” que tenha, por mais sucesso profissional que obtenha, por mais “amor” que sinta de todos os conhecidos, felicidade não existe assim. A felicidade existe da comunhão com os outros, da entrega aos outros, da entrega total do amor que temos em nós. Então se assim é, todos os psicólogos são pessoas altamente felizes, não poderão desejar mais, porque o que todos anseiam anos durante a vida, eles o têm, se cumprirem as regras da profissão e tiverem vocação para ajudar o próximo. Será isto verdade? Paradoxalmente, então, como uma pessoa pode reunir em si mesma dois estados antagónicos: a máxima felicidade e a máxima tristeza de todas as almas que carrega? Não é feliz, nem totalmente triste. Vive num vaivém, onde as vitórias em psicoterapias bem sucedidas dão ânimo, mas por outro lado, visto como perfeito e sempre feliz, nunca consegue um apoio quando falha na sua profissão ou tão somente na sua vida privada, que a tem de facto, embora ignorada.