segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Jesus


Um dia uma criança me parou
Olhou-me nos meus olhos a sorrir
Caneta e papel na sua mão
Tarefa escolar para cumprir
E perguntou-me no meio de um sorriso
O que é preciso para ser feliz.

Amar como Jesus amou,
Sonhar como Jesus sonhou,
Pensar como Jesus pensou,
Viver como Jesus viveu.
Sentir o que Jesus sentia,
Sorrir como Jesus sorria,
E ao chegar ao fim do dia
Sei que dormiria muito mais feliz.

Depois do que lhe disse, ela me olhou,
E disse que era lindo o que eu falei,
Pediu que repetisse por favor,
Que não falasse tudo de uma vez.
E perguntou-me no meio de um sorriso
O que é preciso para ser feliz.
(Bis)

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Desafortunada









Íman de vadios
Fogo de aflições
Vale de Paixões
Em peitos baldios.

Afectos vazios
Apartam corações
D’um nada ilusões
Chorados arrepios.

Vos quero envolvidos
Atendendo pulsações
Tamanhas desilusões
Volvem enfraquecidos.

Desejos sofridos
Cercam maldições
Cruéis sensações
Gigantes gemidos.

18/08/2009

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Para ti Br.








És a brisa calma
Que m’embalou no vazio
Quando a dor d’alma
Se formou em azilo.

És quem me chama
No teu perfil esguio
Para o passo dama
Pelo caminho macio.

Estendes tua palma
E te desnudas, rodopio,
No meu peito inflama
O doce arrepio.

Tua doçura afirma
Teu universo sábio
Que cedo anima
E me aparta o fastio.

És pureza em vida-lama
E alento no sombrio
Tua presença reclama
Nesse perfeito destino!

13/08/2009

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Eu falso


Certo dia olhou-se ao espelho com espanto e reviu-se antagónica na imagem reflectida, estranhando as linhas do seu rosto, os traços do seu corpo. Aproximou-se mais e tocou na sua pele, naquelas maças de rosto salientes e com pequenas covinhas graciosas tão particulares. Sentiu antes uma pele áspera e seca, rugas na testa, um olhar lacrimejante, a pouca flexibilidade, a boca árida. Assustou-se e questionou-se sobre o porquê? Estaria ela a sonhar? Não!!! Era real!!! Gritou e de súbito caiu pesadamente no chão, daquele seu quarto, não suportando a angústia que estava a experienciar naquele momento. Eram sentimentos e emoções demasiado titânicos… desfaleceu num sonho profundo e recalcado. Viu-se em criança, brincando com plasticina num esforço vincado pela perfeição quando, de repente, vê aproximar-se o seu irmão e destruir tudo num ápice quanto o romper daquelas gargalhadas irónicas que logo a aborreceram. Viu também, já na escola primária, caminhar apressadamente até casa na fúria de contar a boa nova à sua mãe que tinha conseguido tirar a melhor nota de todos os seus colegas na ficha de matemática daquele dia. Num sorriso rasgado e genuíno, acercou-se dela, realmente contente, conseguindo a mera resposta: “Vê lá se fazes o mesmo para as fichas de Português que aí sim tens verdadeiras dificuldades e não me parece que te tenhas andado a esforçar o suficiente”. Encontrou-se então naquela amargurada sensação de insatisfação consigo em comunhão com a incapacidade percebida de que não conseguia ser aquilo que tanto seus pais esperavam dela, por maiores esforços que empenha-se. Recuou no sonho, aos seus primeiros dias e, soluçantemente, deparou-se consigo em bebé indefesa e feia, chorando cólicas e respirando vazio quando, à sua volta todos se afastavam pelo seu “mau génio”, pelo “não me deixa descansar”, “é muito chatinha”. Ficava entregue a si naquela falta de responsividade, vendo-se obrigada, tão prematuramente, a habituar-se a ser aquela que desejam que fosse quem ela mais amava, seus pais, e soltar-se dos seus instintos primários e tão desagradáveis. Fingiu-se alegre e conseguiu a aceitação necessária e o suposto “amor” dos progenitores. Mas… cresceu e atormentou-se, tão cedo, com sentimentos confusos, contraditórios e incompreensíveis. Escreveu sobre eles quando, tão sábia inconsciência, sabia não os poder revelar pela perda daquele afecto que tanto lhe custara adquirir. A adolescência fingida de normalidade, a doçura enganadora e os sentimentos reprimidos e sublimados se entrincheiraram em si tão diluidamente que deixou de saber ser ela mesma – o seu Eu verdadeiro. Mas, naquela adolescência crónica já em adulta, sentia-se invadir pelos mesmos sentimentos, os mesmos desejos, os mesmos refúgios, as mesmas aflições de sempre. Revisitavam-na nos sonhos aquele passado infantil tão coberto e, neles, tão disfarçado, sem que conseguisse decifrar seu significado. Sabia não se encontrar bem; sabia precisar de ajuda; sabia socorrer-se do leviano para manter aquela ilusão corrosiva e dependente; sabia ser quem não era em todas as situações e ser-se mais verdadeira naquelas folhas estimadas escritas pelas inúmeras esferográficas coleccionadas. Quer libertar-se; algo a cerca com pesar imenso; aquele vidro transparente e lúcido mas igualmente forte e inquebrável. Tirem-me daqui por favor!!! Salvem-me!!!

Acorda sobressaltada e, recordando-se do latente, sorri! Sabe que aquele é o primeiro dia da sua transformação naqueles passos de bebé que nunca chegou a ser, naquele leitinho quente materno que nunca saboreou, naquela ternura que julgou não merecer, naquelas necessidades primárias não satisfeitas. Sabe que os primeiros passos iriam ser atolambados e cambaleantes mas que, ganhando equilíbrio e força, se ergueria e venceria a vida, cinzenta clara e escura, que a chama à 30 anos! “Eu conseguirei!”

07/08/2009