terça-feira, 17 de junho de 2008

Artística forma de Ser


Inovador e muito pessoal esta maneira de pensar que existe uma artística forma de ser, ou uma personalidade artística. Aqueles que sonham acerca de ideias, que facilmente se abstraem do real, que vivem insaciáveis, que cobrem seu coração de palavras recordadas, gestos sentidos, momentos eternos, pessoas inesquecíveis, e as pintam em telas, em papeis com esferográficas, num piano, num órgão, numa escultura.
Ser-se voltado para a arte, é sofrer, porque maior parte das vezes são pessoas com uma sensibilidade refinada, doces criaturas, que sofrem por si, pelos outros, pelo mundo que os rodeia. Que vivem em agonia, que nunca são verdadeiramente felizes, pois que a felicidade não vem só deles, vem de todos que conhece e aprecia. Ama e afeiçoa-se com facilidade e vê nos outros sempre a pureza infantil de uma criança incapaz de provocar qualquer dano… e sofrem tremendas desilusões, porque o mundo embora corrompido, não é encarado dessa forma, porque se o fosse, se o olhar fosse objectivo, a pessoa deixaria de ter motivos para sorrir, para sonhar, para escrever, para recitar, para pintar, para ensaiar, para esculpir… Porque é sempre um desejo eterno viver num mundo perfeito, com pessoas perfeitas, onde a paz reina, onde tudo é belo como nas telas pintadas, onde o sol reina todo o ano e todos são vistos de igual forma e semelhança. É uma vontade de fazer mil escolhas, cada uma onde se emprega tantos mil carinhos e cuidados, é querer, sonhar diversas, inúmeras, indecifráveis e incalculáveis formas de chegar até aos outros e lhes dar um carinho no momento certo, é querer reanimar o mundo morto e torná-lo rico em jóias humanas, é querer ajudar a todos descurando de si mesmo.
É um querer falar, sem ter voz, nem boca, nem vontade, nem talento; é um escrever desabafo, palavras que de soltas confundem outros tantos, alegram outros demais, entristecem outras sensibilidades, desprezadas por tantos outros… a maioria! É querer falar, é querer alertar para aquilo que o mundo parece não saber, é querer chegar a todos, de mil formas, e dar-lhes um rumo, uma vocação de vida.
É aquele pensamento que até no sono mais profundo não pára e dá voltas e voltas, sonhando mundos belos, cultivando flores inexistentes, é fazer do pensamento instrumento de cultivo e viver na eterna solidão, de si para si, pois que raros são os que padecem desta artística forma de ser, raros são os que compreendem, raros são os que acompanham os pensamentos sem considerarem tolice… Tristeza de viver num constante sentir de só viver, refugiado em si, no seu canto, em torno do seu mundo, impenetrável, desconhecido, inviolável, puro, redoma fina que tece as linhas do pensamento e do sentir, tão dispares de todos, que esconde o ser real, que pincela as telas, se manifesta em encenações, em esculturas, na escrita… no olhar! Já tão pouco visto, observado, pensado, reflectido, questionável! Todos aceitam todos, mas ninguém aceita nenhum a não ser ele mesmo.
Confusão de estar rodeado de pessoas, que se alegram com tua máscara de alegria, que se sentem cativados, lhes despertas encantos mil, mas o teu ser, esse sempre encoberto, a ninguém desvendas. Sofres enquanto escutas as vozes de amigos, sofres enquanto reúnes família em convívio, sofres por não poder falar, pela tua boca não servir aos ouvidos de ninguém, sofres pela incompreensão do social, sofres o infortúnio de não te reveres num mundo tão insano, sofres por desejares o que em tuas mãos e acções únicas jamais poderá ser conseguido.
Apelas aos outros, tentas fazer-te compreender… latim gasto, em palavras que nunca parecem ser vindas de dentro, palavras que de si são supérfluas, leva-as o vento, não carregam em si o sentimento do coração de quem as pronuncia, não expandem a alma, não indicam a realidade sonhada de um ser estranho, de um ser solitário, de um ser que aprendeu que só pode contar consigo para todo o sempre, pois que de tamanha singularidade, ninguém o poderá compreender e afagar.

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