terça-feira, 17 de junho de 2008

Perspectivar a Morte


Nascemos no seio de um ventre materno, acolhidos na mais fina plumagem, aquecidos com amor, habituamo-nos a rostos mais significativos, nossas lágrimas são secadas, os choros afagados e, embrulhados num crescimento espontâneo e cada vez mais vigoroso esquecemos da essência da vida. Viveremos com algum propósito? Porque nascemos e vivemos? Nasceremos para morrer? Uma única experiencia de conhecer o mundo, sem que daí resulte nada de importante? Que nascemos ao acaso e depois da morte, entregues à terra, tudo ali acaba?
Prefiro pensar que a vida tem um propósito, que nascemos, cada um, com uma missão a cumprir, algo que devemos construir aqui, deixando um legado positivo aquando do nosso fim. Que se há vida, há uma tarefa, que cada um tem que deixar marcas positivas no mundo, ou pelo menos, experimentar-se neste palco, conhecer os seus limites, as dificuldades humanas, a felicidade… virmos até cá para sentirmos! O mundo todos nós o fazemos da forma que mais apreciamos, e se este se destrói e corrompe, os únicos culpados somos todos nós… nós enquanto filhos, enquanto pais, enquanto amigos, enquanto trabalhadores, enquanto avós… porque todos somos capazes de nos influenciar mutuamente, e se houver espírito de entre-ajuda entre todos, ninguém se corrompia, ninguém corrompia o mundo. Se todos nós soubessemos ouvir a voz interior, a que vem do coração, aquela que apenas sussura bem baixinho, aquela que chamam de “consciência”, saberíamos escolher o caminho certo, da rectidão de comportamento, da máxima dos valores humanos e espirituais, sermos pessoas melhores, mais ricos.
Pois que todos temos uma tarefa e missão a cumprir, imposta à nascença, há aqueles que na aprendizagem de mais sabedoria, têm missões mais duradouras, mais ásperas, mais dolorosas; outros há que têm missões curtas, que deixaram o seu cheirinho pelo ar e se foram para parte incerta. Missões leves e pesadas, curtas e prolongadas, há que saber aceitar que ninguém é eterno e que, mais importante que a presença física, é a presença espiritual, guardarmos uma pessoa dentro de nós por toda a eternidade, recordarmo-la no nosso coração e cultiva-la de amor. Porque, fisicamente, pela imperfeição humana típica, erramos e magoamos os que mais amamos; deixamos que o tempo passe sem que valorizemos cada segundo passado com uma pessoa querida, aprendemos a trivializar as situações, os momentos, a julgar que a vida é eterna, que há ainda muito tempo para gozar da companhia de quem gostamos e, quando nos apercebemos, perdemo-la. Mas espirituamente, temos sempre a imagem daquela pessoa, o seu sorriso, a sua alegria, a sua maneira de ser única, os momentos recordados num recanto de relíquias no nosso coração, e assim permanece, sempre jovem, bonita, saudável e feliz até que a nossa memória também se esvaia e dê lugar à morte, única certeza. E assim se processa, em ciclo vicioso, perpectuando a presença já não existente uns dos outros durante anos a fio. Passamos a memória para os filhos, os filhos para netos e a memória, quando de amor se trata nunca se desgasta com o tempo.
Saibamos aceitar a lei da vida, aquilo que por mais que a ciência e inteligência humana evolua, por mais que a cirurgia plástica faça maravilhas e milagres, nunca, jamais, conseguiremos fugir à única certeza que temos – a morte. A nossa morte, a morte dos nossos familiares, dos nossos amigos, dos nossos maridos/esposas, dos nossos filhos, netos… Cumprida a missão, que ninguém, por mais que tente saberá exactamente qual é, partimos todos, entendendo que até lá há que valorizar mais o tempo passado com os que mais amamos, não perdermos tempo com mágoas do passado, aprender a amar todos, perdoar, ajudar a caminhar quem está perdido e dedicarmo-nos mais aos outros e fazermos por, nesta breve passagem de vida, construirmos um mundo melhor, com esforço uníssono.

Um comentário:

Anônimo disse...

Sim o nosso proprosito por vezes não é nenhum já que a vontade por vezes é nula, mas todos temos lugar no Mundo, e para ajudar teremos dois ou três porque uma missão dura uma vida, seja qual for, onde for e com quem seja (caso haja). Trabalhar sem ter dormido, é como morrer sem ter vivido.

Beijinho Clarinha*