terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Perdão


Seria capaz de escrever heróis e fantasias alegres, histórias de encantar e maravilhas, sim, se me anulasse o viver sujo. Não te puderei fazer a vontade, sábia amiga, e te peço perdão não te conceder dos teus últimos desejos, mas em mim não há o necessário para prosseguir com risonhas palavras… poderia fazê-lo, tentaria iludir-te, talvez o descobrisses ser mentira, és capaz de perceber o oculto e sabes que me refugio em sorrisos falsos para contentar os demais, mas não seria eu mesma, como nunca sou habitualmente… Vestiria aquela capa vermelha que cobriria meu corpo a tresandar de pó e carvão e bailaria, sem vontade, fingida alegre, para não desapontar-te; para não desapontar ninguém. Te concederia o melhor da minha faceta de actriz e talvez sorrisses, feliz por mim, pelo meu renascimento enganado. Não iria permitir que me tirasses a capa, mesmo em pleno Verão, pois sem casulo sou uma simples nuvem, sem consistência, sem conteúdo, sem substância. Deixa-me aproveitar este espaço, este único espaço, para sim, me revelar, sem a ânsia de um entendimento no outro. Não me tires isto, pois que sem isto nada mais me resta que músculos sem ossadas. Posso ser e parecer pilar, homem, fortaleza e resistência humana… sei transparecer tudo menos o que sou. Saberás tu quem realmente sou? Acredito que sim, que entendas e me aceites assim, frágil, e por experiência própria, fraca te tornas forte, aos olhos dos que te observam de longe e te incentivam a cair, pois que era o espectável… mas de tua fragilidade, física e psicológica, te tornas gigante e inabalável. Ensinaste-me, sem o quereres, a ser tua cópia, e deste vida aos mortos queridos que nunca meus olhos se aprazaram de ver… És sim, um escudo rochoso e queixoso que me ilumina e meu único alicerce. Depois de ti, que restará de mim? Conseguirei ser tua continuidade? Terei resistência para tal, entre queixumes e dores? Te queria eterna, mas tal não te peço, pois que o teu fado foi já pesado demais e eis a hora de acalmares, serenares, poisares a cruz, descansares, dormires. Deixa-me sempre, no real e pensamento, dar-te esse beijo na testa, todas as noites, torcendo que o amanhã seja de coração pulsado e não de coração parado. Conseguirei aceitar teu fim? Minha irmã em tempos… tu sim! Tua memória irá permanecer em mim, te juro, és realmente imemorável! Queria, antes do adeus, dar-te as graças que me pediste, que por duas vezes já rejeitei em olhos que se fecharam rápida e causticamente sobre mim. Contigo não quero mais pecar. Mas também, sozinha, não controlo os acontecimentos, não sei jogar esse xadrez e aguardo paciente, outras vezes, loucamente, pelo sol que me aqueça as costas. Desculpa-me, querida irmã, não te fazer sorrir! Sei que nada do que tenho hoje vai permanecer amanhã, e posso jurar-te felicidade hoje, e atrair tristeza amanhã… que controlo tenho eu? Sou boneco dele… Quando o fores visitar, prometes que lhe pedes que interceda por mim? Que me deixe experimentar o bom? Desconheço-o! Ou serei apenas cega a ele? Estarei a acobardar-me? Tantas dúvidas sobre meu ser!!! Ninguém me conhece para tentar responder por mim… serei eu a única com o poder da descoberta, amarga ou doce, de mim. Apazigua-me saber que esses teus olhos, mesmo que depois de os fechares, me olharão, atentos, de onde quer que os venham a colocar e me darás aquela coragem que só por um sorriso teu, me invade! Minha irmã amada!

05/01/2010

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