quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Passo 7


Entre as quatro paredes do quarto que a circundam, vê-se sozinha e suspira. Sente-se cansada. Não um cansaço físico, não um cansaço específico… mas igualmente um cansaço incapacitante a invade de uma grandiosidade imensa e a faz parar, serenar, apenas respirar. Não se relaciona, desconhece as amizades, o sentir. Não por nunca ter experienciado; não por desconhecimento; não por inaptidão… sim por cansaço, sim por exaustão, sim pela falta de novidade. Não trabalha, apenas escreve. E divaga e dialoga num monólogo consigo, e se aquieta num canto e se mantém tranquila e apática. Sofrida, desconsolada, isolada, desesperançada, virtual. Que foi ela em tempos idos? Igual? O oposto! Dela todos a cercavam pois que emanava vida e alegria. Sorria, amava muito, acariciava a todos imenso, aconselhava, envaidecia, animava. Fazia festas em casa e eram sucessos. Cozinhava para todos, pelas suas mãos, deliciava-os! Amou também, ou melhor, pensou que amou. A realidade não tardou em fazê-la perceber com mais nitidez. Filha querida e exemplar, aluna brilhante, curriculum invejável, inteligente, poderosa, corajosa, eficaz, sapiente! Que mais qualidades a definiam? Voluntariosa, destemida, inalcançável, sonhadora… como ela sonhava!!! Como ela era feliz nos sonhos que criava dentro de si, no seu cérebro! Única! Agora cabisbaixa, descuidada, cansada, sozinha, perdida, esquecida, desanimada, triste, apática… Um dilema para quem a viu e agora vê. Questionam-se o que terá acontecido. Causa preocupação a quem ainda a ama. O mundo deixou de ser um espaço novo e carregado de surpresas por descobrir, mistérios para desvendar, enredos para desenlaçar, lutas por travar. Tudo perdeu o seu encanto, todas as pessoas, todos os seres. Nada mais há a assimilar de positivo… Tudo se resume a réplicas e substituições equipares. Os ideais permanecem, visitam-na em sonhos imensos, mas não abandonam o plano do inalcançável. Sabe que deseja o seu cumprimento mas percebeu também que jamais irá alcançar o seu intento. Quer a justiça, a fraternidade, a honestidade, a amizade entre todos, a cooperação, a entreajuda, o cumprimento de regras, a humildade de carácter, quer o fim do sofrimento, quer a igualdade social, quer a exactidão… quer a perfeição! Descobriu no seu experimentar, no seu palmar, no seu tactear que não vale a pena desejar tanto; nada conseguirá verificar na realidade concreta. E sofre por ela e por todos; pela cegueira que vê neles e pergunta-se, sem conta: “Serei apenas eu a única a ver o caminho correcto? Que foi feito dos amigos que me corromperam sempre?”. Afastou-se deles tão rápido quanto se aproximou; sorrindo ao inicio soluçando no fim. Sofreu e sofre irremediavelmente, incessantemente… é-lhe insuportável! De nada vale chorar, no entanto. Sente que perdeu a capacidade de chorar. Apenas ela e seu ninho, seu nicho, seu espaço curto. Ela e seu pesar mundo.
Identificam-se?

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