sexta-feira, 21 de março de 2008

Paixão pela Vida


A brisa do fim da tarde bate-me no meu rosto; ouvem-se vozes de alguém preocupado com o sucesso das suas plantações e um grito sonoro de uma criança.
Escuto os pássaros e chilrear e apercebo-me que comunicam com os da sua espécie num diálogo, incompreensível, absurdo, inacreditável, mas existente.
O vento move o meu cabelo e as plantinhas que o saboreiam, com aparência inanimada, mas que possuem vida, como eu. O som doa sinos automáticos da Igreja, tocando as sete badaladas da tarde.
Machadas ou pás, ouvem-se ao longe escavarem por entre a terra seca do Sol quente que a desidrata.
Ao cume do meu horizonte vejo muitos montes verdejantes, um moinho já antigo, inútil para as actuais necessidades e terrenos de cultivo.
O Sol queima-me o rosto, embora se deite, continua quente e agradável. As pedras tomam o rumo que os passos que alguém lhes deu, arrastando-as ou tropeçando nelas sem pensar na sua sensibilidade imaginária.
Bem em frente está um campo de cultivo coberto de vinhas donde se extrai o famosíssimo vinho do Porto, tão apreciado pelo mundo. Casa do meu lado esquerdo e também o jazigo da comunidade, com o seu muro branco pacífico e inconfundível; ao meu lado direito uma série de amendoeiras esperando, sem se saturarem, do seu fruto, sinal de vida.
O céu agora está enevoado, impedindo que se veja e se admire com clareza o azul cintilante do firmamento. O Sol prepara-se para se esconder por entre as montanhas, continuando a sua tarefa cíclica à volta do planeta aquecendo e clareando todos os povos que nele pertencem. As nuvens cobrem o brilho cegante do Sol. O vento arrefece-me, o dia entardece, o sol por fim desaparece, mas do outro lado da coroa celeste lá está a Lua preparada para alumiar a noite. Lua que de dia não inveja a luz mais forte do Sol e se esconde do outro lado do mundo, onde é noite, mantendo-se fiel à companheira de longa amiga de viagem, A Terra.


(2002)

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