quinta-feira, 2 de agosto de 2007

(Para Reflectir...)








Se podes conservar o teu senso e a calma,
Num mundo a delirar, p’ra quem o louco és tu;
Se podes crer em ti, com toda a força d’alma,
Quando ninguém te crê; se vais, faminto e nu,
Trilhando sem revolta um rumo solitário;
Se à torva intolerância, à negra incompreensão
Tu podes responder, subindo o teu Calvário,
Com lágrimas d’amor e bênçãos de perdão;

Se podes dizer bem de quem te calunia;
Se dás ternura em troca aos que te dão rancor,
Mas sem a resignação dum santo que oficia,
Nem pretensões de sábio a dar lições de amor;
Se podes esperar sem fatigar a esp’rança;
Sonhar, mas conservar-te acima do teu sonho;
Fazer do Pensamento um Arco de aliança,
Entre o clarão do inferno e a luz do céu risonho;

Se podes encarar, com indiferença igual,
O Triunfo e a Derrota – eternos impostores;
Se podes ver o Bem oculto em todo o mal
E resignar, sorrindo, o amor dos teus amores;
Se podes resistir à raiva ou à vergonha
De ver envenenar as frases que disseste
E que um velhaco emprega, eivadas de peçonha,
Com falsas intenções que tu jamais lhes deste;

Se és homem p’ra arriscar todos os teus haveres
Num lance corajoso, alheio ao resultado
E, calando em ti mesmo a mágoa de perderes
Voltas a palmilhar todo o caminho andado;
Se podes ver por terra as obras que fizeste,
Variadas por malsins, desorientando o povo,
E sem dizer palavra e sem um termo agreste
Voltares ao princípio, a construir de novo:

Se quem conta contigo encontra mais que conta:
Se podes empregar os sessenta segundos
Dum minuto que passa, em obra de tal monta
Que o minuto se espraie em séculos fecundos;
Se vivendo entre o povo és virtuoso e nobre
Ou, vivendo entre os reis, conservas a humildade;
Se amigo ou inimigo, o poderoso e o pobre
São iguais para ti, à Luz da Eternidade;

Então, Ó Ser Sublime, o mundo inteiro é teu!
Já dominaste os Reis, os tempos e os espaços;
Mas inda para além, um novo sol rompeu
Abrindo um infinito ao rumo dos teus passos;
Pairando numa esfera acima deste plano
Sem recear jamais que os erros te retomem,
Quando já nada houver em ti que seja humano,
ALEGRA-TE, MEU FILHO, ENTÃO ÉS UM HOMEM.

Rudyard Kipling

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