Decorridas longas horas de uma
indisposição que impediu a clarificação do presente, sentando sobre os meus
pensamentos, acho-me incrédula com as tamanhas façanhas e simbolismos
oferecidos nesta realidade que cerca e comprime. Não é clara a compreensão dos feitos
e dos gestos, do que move rostos e vontades, sapiências e loucuras observadas
em toda a parte, em pormenor maior – em mim.
Daqui se esgota uma
potencialidade de avançar sobre terrenos sabidos movediços que parecem abismos
numa perspetiva atual. Na observação de míseras almas e da oposição de
comportamentos, na rebeldia e escárnio, maldições e aparições, descrês do certo
e justo, ideais humanos nunca alcançados. Ante eles és corrupção e despeito,
desfragmentada e em desfecho, numa primeira tentativa de estreia de mais de ti.
Quem o observa com clareza, reage de braço dado contigo, numa cumplicidade que,
de tão genuína, estranhas e questionas. Sempre crente na luta, no angelical
divino e benfeitorias, és avassalada contra paredes, apontada e corrompida,
naquilo que mais e melhor tens – o nome – único ante outros iguais, todos
diferentes. A unicidade, a verticalidade se torna cruel de manter ante déspotas
e corrosivos, engolidos sobre si mesmos, numa solidão disfarçada. Nada te é
dado e com mil proezas, engenhos reais e armas erguidas, de entre cheiro a
pólvora e estilhaços repartidos por tudo em ti, sais de uma nuvem negra,
cinzenta agora, exclamada ainda, mas enfim, viva! Pela frente, quando olhar
para trás desilude e inflama o peito cansado, longas horas secundadas em mil
propósitos, hierarquizáveis de tantos utópicos sonhares e despertares
realísticos, sempre opostos. A possibilidade se concretiza na verdade que és e
que poucos, gigantes, reconhecem mas que, unidos, a solução abarca, agita,
constrange e revolteia, ciclicamente, num caminho iniciado e ofuscado no
distante. O que esperar e desejar, perante o congestionamento e a cega dúvida
que atua sobre ti, te envolve, moveste mas sem fim à vista? Tudo é vedado na
hora da oportunidade, e no momento em que sorris, reparas que num tardar,
choras e estremeces perante emoções em idas e vindas, rodopiadas e infinitas
que não decifras, porque não és quem és, és pouco no muito, és ténue no
sobressalto de um colorir. Manténs-te meramente na filtragem do dióxido de
carbono mais imenso que o outro, melhor, que aqui, caída sobre estas terras,
são mais pobres que no teu seio, no ventre de onde partiste largos anos idos. A
inércia a cada dia contrariada é reprimida até um alívio total, tangível,
expetável, incansável quando o amanhã, se sabe, sempre chegará e tardará um
termo. Por isso, sem solução, no agora que o alcance total não vem, perde-se em
labirintos que, tarefa outra entre tantas, tens de definir. Lamento o
desprezível infortúnio, possível e demais temível para suportar. Creio naquela
que não apaga, embora de luto se pinte – a esperança no que de tão pouco
desejas, do tão pouco ser para aqueles, anónimos, que por ti passam sem saber
da sua sorte. Aquele ponto negro agonizante não se desmancha perante os teus gestos,
contrários, e desfaz sorrisos e vitórias, evidentes a todos, menos a ti, na
cegueira íntima ou desperta lucidez, venham elucidar. Entre o tudo e o nada,
caminhas por entre elas, sabendo que de um lado mora o sol e sente-lo aquecendo
a tua pele, mas do outro lado está o abismo que esmaga e escurece o que do
brilho restou. Saberás o amanhã brevemente, num contar pulsações, já
conhecidas, ora calmas ora ansiosas que tão bem controlas, inegável à sorte e
ao destino que se quer triunfal, mas que se desconhece o que palmear.
Então segues, cega ao mal,
vitoriosa na ilusão mas de corpo quebrado e pobre, ali onde te esperam, local
mil outro, de entre tantos, que contar?
Clara Conde, 20/11/2013
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