domingo, 20 de janeiro de 2013

A crise


E mais uma vez do sempre e eterno recurso último que antevejo perante idênticas situações, mais uma de uma cadeia homogénea de derrotas, aqui volto numa tentativa de busca de entendimento, quando o pensamento racional perde a razão e as emoções são distorções e divagações de um cem número de desastres que, longe de desaparecerem, me perseguem no infinito.
E questiono o que de errado existe da minha existência tão desinteressante, aos olhos de um mundo cego à beleza, ao encanto, ao amor, ao talento, às boas obras, ao singular encanto de cada um? Que sou eu, afinal, aqui nesta matéria viscosa de infortúnios que acelerados me avassalam num poço fundo onde, sei lá, por onde sair. E quero, pergunto-me, evadir-me realmente? Se a esperança se perde repetidamente diante da realidade cruel que me fomenta a raiva de que sorte alguma, alguma vez me habite, que nada a minha força, robusteza inexistentes, façam para melhorar ínfimas parcelas, insignificantes, de um enlace, de um pulsar tão vil. O que me anima na continuidade?
Veja-se um cenário coberto por seda negra em torno de um peito frio, centralizado no espaço, que embala os que ama, mas desfaz paradoxalmente todo o sentimento mor daqueles quer mais deseja, e se acendem, cândidos de brancura, aquelas vozes celestes de uma ópera sofrida, embalada no sonho de um final, quiçá o último, melhor seria. E neste espetáculo que é o cúmulo da pequenez de uma humana periférica, os labirintos cercam o ar, asfixiando-o, por toda a parte, com recordações de um passado que dói ainda em pesadelos e que, no presente, se mantém hirtos perante a ânsia da tua destruição compassada. E os que na plateia te observam, abanam-se numa inquietação da loucura observada e deixam-se ficar surdos perante os teus gritos e súplicas que, realmente, e fatualmente, inconvencionais, mas sem uma procura de entendimento da raíz... cansa demais aos surdos perceber a cegueira de um louco! E cega, mais que os défices, sem perceber o que me resta, além de um dia hoje, outro amanhã talvez, sem o objetivo de um lar harmónico, de harpas entoando o ambiente numa ternura sentida, angelical pura e mútua de alegrias contagiadas por elementos de gerações distintos, únidos pelo sempre, daquilo que é a configuração mais bela do motivo humano. Porque, de fato, o que faço aqui se não é para perpetuar um sangue, nas sementes colhidas, de grãos de arroz semeados que florescem num ventre e trazem, grandiosos na sua derradeira passagem, sorrisos mil, um caminho que, só ali, sejamos francos, e jamais em tempos outros idos, se configura, se delineia, se amplia em sôfregos sacrifícios hercúleos necessários no auge de um âmago amor, o maior e mais intenso. E quem, tal como minha alma fraca, nada disto pode já esperar ou, de igual modo e dor, teme nunca o alcançar, como fica, que restos sobejam, que lápide se juntou a igual morte, não dita, não vista, não sabida, mas tão dolorosa na perda? Que restou de mim na antevisão de um vazio de tudo aquilo que alentou, tão breves momentos, igualmente mágicos na loucura de aguardar sempre o melhor vindouro, tardado, adiado, adoecido, inacabado, febril, temido, desvanecido... mas nunca me digas “incapaz”! Se o prognóstico atual é já reservado num termo vislumbrado, imerso em águas de pessimismo corrosivo, não me peças mais para continuar por cá a assistir ao desfecho. Que este é, tudo aquilo que, do alto de um sonho, te acorda subitamente diante da impossibilidade de um perpétuo querer.
Que a alma vença o satanás destino que me espera...
18-01-2013

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