quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Glamurosa


Sentada sobre aquele cadeirão branco, largo e macio avista, defronte de si, o verde do seu jardim, povoado de flores coloridas e amores-perfeitos, gladíolos e palmeiras. Sobre as suas mãos perfumadas o apoio daquele livro que desfolha devagar, enquanto respira satisfeita o aroma a canela da vela. Sala longa e decorada de estantes de livros. Sorri ao passar-lhes o olhar e ao deliciar-se com a sua obra por fim completa após tamanho cansaço. Vem até si aquele gato pardo, espreguiçando-se nas suas pernas pequenas, mas desenhadas. De repente toca o telefone, retira os óculos com suavidade e desloca-se, aveludada. As suas tarefas de líder, que jamais adormecem, árduas e nunca incomodativas, são o brilho que a seduz para a vida. Pousa o telefone, gentilmente, na finura das suas mãos e escuta o som do seu carro. Aproxima-se e vê-lo vermelho e negro e pequeno, desejado à muito; talvez, desde sempre. De dentro vê sair um vulto masculino que a irradia por dentro. Ele aquele de quem jamais se satura, aquele que com abertura a ama, autónoma. Beija-a e sente como se o primeiro fosse. Ele também o irreal existencial que sempre suspirou para si. Entram pela casa e sentem os seus aromas mesclados com aquela madeira fresca. Nela, seus gestos são graciosos, que cultivou sem oferenda gratuita pela vida fora. Fragrâncias doces e quentes se libertam dela, como se a cobrisse uma nuvem duma tarde soalheira de Verão. Fala mastigando e adocicando aquelas palavras rudes e de todos. Tem amor na língua de onde se soltam sons breves, calmos, calados pela suavidade do seu ser. Vêem até si as jóias negras que alimentou e abraçou na sua estreia pelo palmar sonhos. Deu-lhes as necessidades satisfeitas, as carícias em défice de outrora. A vida isolada individualizada e auto-centrada não lhe faziam sentido. Daí ter crescido no ajudar todos, daí a sua felicidade provir. Desconhecia-a e, em determinado momento, julgou haver antes pessimismo no seu alcance. Não desistiu porém e, um a um, conseguiu, com luta, os desejos satisfeitos. Na grandeza não se revia, sim, na bondade. Vida desafogada se deseja de quem partilha o pão com mil outros. Entrega quer-se total e não parcelar. Era irreal adormecer sob o travesseiro sem o coração nutrir com a dádiva. Só isso a saciava! Tinha ainda planos cada vez maiores, projectos, ambições… sabia não as alcançar todas em vida mas julgava haver nelas uma continuidade imortal. Confiava nos seus e medira os seus corações generosos. Não tinha porque se preocupar. Nos seus cabelos já grisalhos, algum cansaço nela se apoderava, mas a elegância e jovialidade na voz, não. O desporto fortificava-a, o seu ioga era imprescindível, a corrida e a natação, diariamente. Sempre o desejara. No esforço se aprazia. Sua casa era visitada tanto com vistas para ela como para eles; pedidos, desabafos e clemências... a todos, suas mãos e ouvidos, estendia. Eles sentiam-se melhores após o seu afastar, pois que a presença e cheiro permaneciam. Cozinhava pelas suas mãos jantares grandiosos carregados de especiarias e convidados. Sorria em gargalhadas! Haveria melhor alegria que essa? Só o banho nocturno bem quente quando lá fora há tempestade e frio. As pétalas de rosa amaciavam a sua pele, que nem a melhor seda se equiparava. Aquele creme corporal de cacau, a maquilhagem subtil e ligeira, aquele pó de arroz cintilante, o perfume vibrante. A frescura à sua passagem, a pele do casaco, e o pequeno-almoço vegetariano. O equilíbrio e a leveza de um ser… no caminho par e passo com o seu potencial.

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