segunda-feira, 2 de julho de 2007

Passagens de uma Viragem da vida




Quantos são aqueles que vagueiam sem razão, por encruzilhadas, labirintos, teias sem saída, ruas obscuras e fraudulentas com a força de um mover sem fim e sem objectivo? Será o caso da maioria de nós? A vida, o seu propósito… será apenas viver uns anos, o mais confortável possível, somar glórias e vitórias cobiçadas com fervor? Para quê, afinal? Que rumo ou propósito nos deve guiar? A estética, a fortuna, a riqueza? Ou será a tão desejada Felicidade? A Felicidade deverá ser construída pelas mil léguas percorridas ou pelo lançar âncora sobre aquilo que nos faz encher mais o coração? E estar contente é sinónimo de ser Feliz? A meu ver, se diferenciam claramente na amplitude e alcance, mais a curto prazo no primeiro, ou seja, mais imediato, e a longo prazo, no segundo, só alcançado em anos latos da existência, quando nos olhamos ao espelho e nos felicitamos com um ser que, independentemente do número de rugas ou pigmentação, se vê interiormente belo! Não será esse então o propósito da existência? Ser Feliz, nos termos que enumerei? E sê-lo, será fácil? Não, pois os caminhos são sinuosos, montanhosos, escorregadios e indecifráveis. Porém só com o espírito de vitória alcançado, se chega ao cume mais supremo e depois de acabada a tarefa, em paz, contente, o rever com nostalgia tão bons momentos, carregados de mor emoção, de mor intensidade, mor prazer, se vivenciam tão reconfortantes sentimentos. Pois que, nestes momentos, todas as pequenas coisas, habitualmente banais e irreparáveis, se redobram em significados imensos. De facto, só quem luta vence, como um herói forte e hercúleo, de espada na mão, corajoso perante os desafios, as dificuldades, os piores inimigos, por vezes até gigantescos e terríveis, alcança a boa ventura, a feliz sorte, o enternecedor conforto.
Há momentos que nos obrigam a que sintamos mais forte necessidade de vestir os trajes de um bom cavaleiro, no feliz e bem aventurado momento que decidimos prosseguir uma meta mais honrada e mais sublime. No meu caso, vesti a bata branca, no último momento, e de coração cheio de amor, semeei-o àqueles que mais o fizeram por merecer: “Minhas crianças, que da maior saudade me deixai partir, recordando-vos sempre pequeninas quando, pela lei da vida, o deixardes de ser.” Amizades perdidas, novas achadas, saberemos entender o que nos rege com força suprema – o Destino! Momentos felizes, tantos, em fotos e molduras guardadas. Mas também por guerras se deve passar, nuvens negras de ameaça de aguaceiros pela urgência de, por fim, pôr termo ao grande sonho; desânimos, depressões e lágrimas de infortúnio: devem sentir-se, viver-se e resistir-se! De luta em luta, de guerra em guerra, de ferimentos e chagas, aí saberemos ser mais fortes e resistentes… passo-a-passo, muito teremos ainda que caminhar, o caminho avizinha-se longo, mas com passinhos aveludados de bebé, prosseguiremos firmes. Saberemos, a par e passo pronunciar com total certeza que em nós, vento nenhum abala, pois folha seca fomos, sujeitos aos seus rumos e direcções, tropeçando pelas rochas e esmagando as roupagens e, deste ensinamento abriremos os olhos ao mundo, esperançados e diremos enfim: VINI, VIDI, VICI!

“Cheio de Deus, não temo o que virá,
Pois, venha o que vier, nunca será
Maior do que a minha alma.”
Fernando Pessoa (séc. XX)

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