quinta-feira, 9 de julho de 2015

Visão Centrífuga


Sempre obtive contentamento no ato de escrever. Momentos de ternura, poucos, de aflição, muitos, o grande objetivo da escrita: sossego e clarividência maior para, diante do caos (externo ou interno) assim criar armaduras resistentes ao prosseguir. Um livro, um sonho! A arte das palavras, imbuídas de emoção amarga, nos azedos dos dias, sem luz, conduzíveis a maior inspiração, vontade e ânimo no jogo de palavras que, honrosamente, sabia-o confuso ao geral, apenas sensível ao particular, ao que mais sabe sobre mim e o que me habita.
Sempre vivi em penumbra, apesar de disfarçada de trajes sorridentes e indiferentes à maldade. Vivi, largo tempo, distante do meu ser e sentimentos, encoberta em fantasias e sombras que, pior, não me faziam notar aquela perceção tão cruel de nulidade. Fui inimiga e parceira de batalha, travada em mim, criada por mim. Senti a solidão da falta de entendimento, da falta de caminhos sonhados e aparentemente distantes; fui negada por tantos, desvalorizada demais. No entanto, o sonho nunca ameaçou quebrar. Habitou-me na sucessão de ruínas, no caos desorganizado daquilo que sobejava num esforço que, sempre o tive como o maior. Mesmo a escuridão tem a luz alumiada de um luar magnífico, mesmo no deserto nasce a vida, mesmo no caos dos destroços há amor entre os que sobram, mesmo no tédio dos dias há um impulso de progresso.
Antes ditada pelos valores que os olhos percebiam, agora focada nos valores edificados e únicos que soube, entre cinzas, organizar. Há iguais e soberanas identidades, idênticas em riqueza, mesmo que umas ostentem luxúria e outras, meros trapos. A pobreza não te destrói nem rebaixa; ela te faz mover com força maior que jamais, poderoso algum, sempre pleno dos seus quereres, poderá perceber; logo, é grata a pobreza e o olhar firme e confiante sobre o que há pela frente.
Deixei-me de complexidades, até mesmo na arte escrita. Há plena transparência em cada gesto, atitude e postura. Nada me move além de um querer solitário e de raíz, apenas meu. Enrubeço perante a infidelidade, ganância, traição e falsidade e se antes, um mudo sussurrar me restava, agora há voz feroz e digna, democrática e igual força para contestar. Calar é aceitar; calar é perder; calar é fraqueza! Sempre o mundo se ergueu em função, não dos que com poder mandam e aniquilam os demais, mas sim aqueles seres pensantes, serenos de si e livres, capazes de explodir autenticidade e cegar as cópias comuns (demasiadas). E tudo o tempo mudou, selado no amor-próprio, experiência, tenacidade, coragem e robustez, mas não só!...
A plenitude mora no alcançar do teu maior objetivo em viver, na feliz fortuna de criar amor, fazê-lo amadurecer, ensiná-lo acerca das glórias e irregularidades do aparente plano igualitário da existência. Ganhei luz ao dar luz! A Felicidade completa, aquela que acompanhada de uma côdea partilhada, num respirar amor puro e único, faz erguer-te num aconchego que jamais soubeste entender até o transpirares. Ele virá na salvação do mundo, no poder e força que produz, na esperança que resulta, no júbilo magnífico que liberta, a cada segundo, tido ora em soluços ora em sorrisos meigos. Deleite nos dias tranquilos, lá fora cegos e trajados de Carnaval, embebidos em divina graça, divina dádiva… MILAGRE, graciosamente grata!

Clara Conde, 18/03/2015

Nenhum comentário: