Sempre obtive contentamento no
ato de escrever. Momentos de ternura, poucos, de aflição, muitos, o grande
objetivo da escrita: sossego e clarividência maior para, diante do caos
(externo ou interno) assim criar armaduras resistentes ao prosseguir. Um livro,
um sonho! A arte das palavras, imbuídas de emoção amarga, nos azedos dos dias,
sem luz, conduzíveis a maior inspiração, vontade e ânimo no jogo de palavras
que, honrosamente, sabia-o confuso ao geral, apenas sensível ao particular, ao
que mais sabe sobre mim e o que me habita.
Sempre vivi em penumbra, apesar
de disfarçada de trajes sorridentes e indiferentes à maldade. Vivi, largo
tempo, distante do meu ser e sentimentos, encoberta em fantasias e sombras que,
pior, não me faziam notar aquela perceção tão cruel de nulidade. Fui inimiga e
parceira de batalha, travada em mim, criada por mim. Senti a solidão da falta
de entendimento, da falta de caminhos sonhados e aparentemente distantes; fui
negada por tantos, desvalorizada demais. No entanto, o sonho nunca ameaçou
quebrar. Habitou-me na sucessão de ruínas, no caos desorganizado daquilo que
sobejava num esforço que, sempre o tive como o maior. Mesmo a escuridão tem a
luz alumiada de um luar magnífico, mesmo no deserto nasce a vida, mesmo no caos
dos destroços há amor entre os que sobram, mesmo no tédio dos dias há um
impulso de progresso.
Antes ditada pelos valores que os
olhos percebiam, agora focada nos valores edificados e únicos que soube, entre
cinzas, organizar. Há iguais e soberanas identidades, idênticas em riqueza,
mesmo que umas ostentem luxúria e outras, meros trapos. A pobreza não te
destrói nem rebaixa; ela te faz mover com força maior que jamais, poderoso
algum, sempre pleno dos seus quereres, poderá perceber; logo, é grata a pobreza
e o olhar firme e confiante sobre o que há pela frente.
Deixei-me de complexidades, até
mesmo na arte escrita. Há plena transparência em cada gesto, atitude e postura.
Nada me move além de um querer solitário e de raíz, apenas meu. Enrubeço
perante a infidelidade, ganância, traição e falsidade e se antes, um mudo
sussurrar me restava, agora há voz feroz e digna, democrática e igual força
para contestar. Calar é aceitar; calar é perder; calar é fraqueza! Sempre o
mundo se ergueu em função, não dos que com poder mandam e aniquilam os demais,
mas sim aqueles seres pensantes, serenos de si e livres, capazes de explodir
autenticidade e cegar as cópias comuns (demasiadas). E tudo o tempo mudou,
selado no amor-próprio, experiência, tenacidade, coragem e robustez, mas não
só!...
A plenitude mora no alcançar do
teu maior objetivo em viver, na feliz fortuna de criar amor, fazê-lo
amadurecer, ensiná-lo acerca das glórias e irregularidades do aparente plano
igualitário da existência. Ganhei luz ao dar luz! A Felicidade completa, aquela
que acompanhada de uma côdea partilhada, num respirar amor puro e único, faz
erguer-te num aconchego que jamais soubeste entender até o transpirares. Ele
virá na salvação do mundo, no poder e força que produz, na esperança que
resulta, no júbilo magnífico que liberta, a cada segundo, tido ora em soluços
ora em sorrisos meigos. Deleite nos dias tranquilos, lá fora cegos e trajados
de Carnaval, embebidos em divina graça, divina dádiva… MILAGRE, graciosamente
grata!
Clara Conde, 18/03/2015
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