terça-feira, 9 de junho de 2009

Abismo


Ali se encontra ela, aquela que ninguém vê mas sentem comichosamente na pele e a repelem com enojo, para que rápido se afaste, pois que atrapalha demais. Sozinha e entregue apenas a si mesma ao seu corpo e presença oculta, fronte àquele precipício rochoso e extremamente elevado, onde a profundidade é ameaçadora e chamativa para ela. Por não raras vezes vai até àquele local no limiar de si e das suas resistências e assim fica parada, a balancear, enquanto recorda em flashback a sua passagem de vida, naqueles seus 25 anos tão amadurecidos e calejados. E pensa e reflecte que afinal, sempre lutou por ideais desadequados ao mundo e que jamais se conseguiu fazer compreender e/ou conquistar a compreensão de qualquer alma transitória que desfilasse, algures no seu passado, diante de si. Revê a sua família, o amor esperado nos rostos deles e depara-se com frustrações e injustiças. Repara que por si amizades muitas experimentara mas que cedo se desvaneciam num instante estranho em que deixara de ser útil, deixara de animar quando, erradamente, num momento abrira a boca para se revelar nas suas mais internas, puras e desvirtuosas características. Reparara que à sua volta todos, com o passar das primaveras, habitualmente mais quentes e agradáveis que as suas, se alteravam para alguém que cedo se desvirtuava aos seus olhos, naquela análise minuciosa de caracteres e valores humanos que a custo seguia à procura de algum doce… embora, na maioria das vezes, sentisse a amargura… Mas ela permanecia a mesma por opção própria, por tenaz persistência nos seus concretos esboços de personalidade e unicidade. Era infeliz pelo isolamento e por se sentir presa a um percurso vivencial que não lhe fazia qualquer sentido. Entregue a si, sempre, escalando os mais altos picos e caindo dos mais altos cumes até ao chão grosso e rude tantas vezes se feriu que, agora, ali diante do seu término, notara a sua tão baixa utilidade e retorno de satisfação. Na dureza lutar para o nada conquistar? De que vale permanecer aqui afinal? Chorando aquelas infinitas lágrimas que a toda a hora se produzem naqueles olhos amarelados e rubros, semicerrando-os, se deixara voar naquele abismo sentindo que asas nela se criavam e se faziam agora esvoaçar sob planícies belas e calmas onde, lá em baixo, a acenavam com amor, onde toda ela era liberdade, felicidade, ânimo, reconforto, paz, tranquilidade… Desejava assim permanecer eternamente naquele balouço abebezado, ao som de aves em torno dela melodiando a 5ª Sinfonia de Beethoven enquanto o ar roçava nos seus cabelos loiros cobertos de ouro real de uma grandiosidade que nunca antes vira em si! Não me acordem jamais! Sou agora andorinha num sono maravilhoso onde o amor, afinal, reina e a paz impera sem ameaça de derrocada! Me embalem que tanto preciso de sorrisos! Um fruto me darão amadurecido após as queimaduras arrependidas do Sol! Merecido!

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