quinta-feira, 21 de maio de 2009

Oculto


Na calma aparente de um olhar se desenha o corpo de um febril invisível sobre aquela que no passo quatro se esvai em emoções. Sem saber quando rir, gargalhar, chorar, gritar, soluçar, amar, vive do tudo e do nada. Apegada a um sonho longínquo e gigante vê na sua mente imagens abstractas e puramente criativas de Cristo pregado na cruz, rochas áridas, sulcos, torres fantasmagóricas naquele que é o seu íntimo irreconhecível por todos. De uma altivez que nunca será sua, vai rastejando naqueles dias eternos onde a utilidade fugiu e o respirar se torna cada vez mais insuportável. Mas não se esquece da sua máscara e veste-a nas mais exaustas aflições. Provoca suspiros, poucos, espanto, gracejos, muitos, desamores, paixões, várias, réplicas humanas, invejosas, previsões erradas de antevisão de si e do seu ser actuante, amizades, raras, amores, nulos, simpatias, imensas. Na sua fingida redoma desacreditada, ali está apenas um ser fraco, frágil, emotivo, triste grande parte das vezes, lutador pela tentativa de se manter vivo… um ser construído do segundo que vitoriosamente teima em manter-se vivo a despeito pela desconsideração que vê erradamente nos outros. Sabe que sua passagem tem e deseja ser breve, mas ainda assim invade-a a vontade de mostrar a sua unicidade e singularidade, não esquecendo, antes do “adeus” eterno de deixar o seu testemunho, o seu traço, as suas mãos, o seu cérebro, os seus cabelos, o seu sorriso, a sua estranha forma de ser e se relacionar com o mundo, a sua idiossincrasia tão fina e estranha, o seu fumo, o seu sabor, o seu olhar fundo e profundo, o seu mar, o seu labirinto, a sua alma, a sua batalha, a sua infelicidade, o seu cheiro, a sua rotina, a sua voz… o seu encanto soterrado. Assim insiste em deixar o seu total na memória de pessoas vulgares e simples e tristes e clamantes e rústicas e fugazes e sonhadoras como ela. Mantém-te… Aguenta… mais um segundo, mais um minuto, mais uma hora, mais um dia, mais um mês, mais um ano… Por ti ou para ti? Para os outros gigantes no seu coração pequeno e descompassado de uma efervescência de vida indesejada e desadequada a si. Quem é ela afinal? Ninguém! Não se vê, não se percebe, não fala, não se exalta, não grita, não respira, não magoa… indiferente! Ténue véu de um passado que as memórias armazenam e que dão da sua graça em momentos oportunos. Embora não exista, embora a sua beleza e encanto sejam voláteis, embora ela seja vapor, embora ela seja a fusão com a natureza, embora seja o ar primaveril infiltrado em todos e nenhuma narina… está aqui… perto de todos, indiferente a nenhum, critica em relação aos demais, naquela voz doce e finíssima que se instala em cada ouvido irritado. Mas é doce e fingida, alegre e triste, rude e princesa, lógica e estranha, amadora e artista. Não vale a pena tentar entender… demais… deixá-la!!! É livre? Não! Mas quem disse que a liberdade existe aqui nesta bola azul em que todos rebolamos cegos e surdos e loucos e pobres e inertes? Pois que ela não é mais que o extremo da curva normal, a estatística falhada, o cálculo errado, o tropeço da geometria, a desgraça da economia, o falecimento da psicologia. Quem a assemelha? Todos! Sintam na pele a sua presença… persegue-vos, é tão viscosa! Ela metaforiza-te e dá-te nome quando tu lhe perguntas o que sentes e ela te diz roucamente no ouvido a designação a dar a cada emoção. E porque ela é tão sabedora assim? Porque já viveu e vive tudo o que na criação humana existe de irracional, categorial, filosófico, humanista, antropomórfico, antítese e suspense. Vê-la sempre quando te olhas ao espelho ou te acercas da água de um riacho. Mas alguma vez te perguntaste o que estava ali a fazer contigo? Não! Se é ela a criatura que sustém em si todas as maravilhas e maldades do mundo… Na sua magnificência sofre tal crueldade ser igual à soma de todas as partes que compõem a humanidade ou desumanidade na Gestalt de um só quadro que pinta e escreve desinteressada de seu valor naquela manhã cinzenta de estrelas caídas sobre um sol cintilante de Inverno vespertino. Confusos? SOMOS!!!...

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