sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Beleza Outonal


A rosa secou, um vento frio sopra e rebola pelos rostos morenos, da praia ou campo, gelando o corpo ainda habituado ao sol e às roupas leves do Estio. Chegara o Outono, mas com ele trará beleza alguma? A transição, sempre tão inconstante, o refúgio em casa em dias mais chuvosos e frescos, as roupas mais quentes, guardadas do ano transacto… Bom estar junto à lareira, servir-se de um chá bem quentinho e escutar, enternecida a chuva batendo nas janelas, enquanto os pensamentos voam, soltos, para tão longe, para além do tempo, para as boas aventuranças de ontem e as idealizações de amanhã. Que acalmia melhor poderá haver no mundo que substitua tal conforto?
Cedo acordar, pessoas do campo, de rostos escurecidos pelo sol de dias inteiros, vestes rasgadas e manchadas pelos anos, alegres se preparam para as vindimas. Ainda nasce o astro maior, lá elas, fortalecidas e corajosas, de valados em valados, de videiras em videiras, de cachos de uva e cestos pesados sob as costas, sorriem pelo agradecimento de mais um dia de trabalho, em paz, com a vontade inacabada de sempre. Trabalho árduo, ao fim de um dia mais se nota… “Como me doem as costas! Faz-me aqui umas massagens, meu tão bom marido e companheiro, que estou tão dorida!” Dia após dia, a dor deixa de insistir e acaba desistindo. Tudo é passageiro – dor física e mental, aquela que vem do coração e mais corta. Dói muito, mas o tempo é sagrado e milagroso – cura tudo! Vindimados os campos, admira-te ao espectáculo colorido dos socalcos vistos de longe! Amarelos, castanhos e vermelhos, tão vivazes! Já te apercebeste e olhas-te verdadeiramente às oferendas que a Natureza justa dá depois de tanto esforço e cansaço? Lindo, simplesmente fabuloso! Repara… aproveita, feliz e bem-aventurado transmontano, és nobre por possuíres tão lindos cenários coloridos que te enaltecem cada dia, que vivem mais perto de ti, te acompanham sempre, são teus amigos e querem que essa dor que sentes, aí dentro de ti, se apague e se esvaia com o vento. Porque ignoras tudo o que a Natureza, gentilmente, te oferece? Haverá melhor cura para os teus males do que desfrutar tamanha magia? Não! Estás, contudo, sempre convidado, dia após dia, a assistir ao espectáculo, a te deixar voar pelo seu encanto, deixares-te perder pela beleza e te desfazeres de pensamentos, da rotina desnutrida do quotidiano. Respira fundo! Teus ao teu bel-prazer o melhor ar de Portugal, o menos poluído e contaminado pela azáfama que, aqui, felizmente não predomina. Mas que sorte tens! Já pensaste nisso? Apelo e grito que vivas verdadeiramente; te felicites com o ar fresco pela manhã que te dá os bons dias, atentes à beleza do ambiente que se embeleza para te encher o olhar, saibas perceber a linguagem da nossa mãe Natureza, que constantemente te envia sinais, te aconselha a parar, a respirar, a ser mais modesto e feliz pelo viver, fulgurantemente, cada dia como se do último se tratasse. Sorri a este Outono que é teu e de cada um, especialmente e de modo muito singular para todos. Sê Feliz!

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