Dos momentos mais tumultuosos, de inseguranças, tristezas e medos,
percorrendo caminhos sem um fim soalheiro à vista, viste-me chegar até ti,
sorrindo num pedido de pureza, carinho nos olhos e meiguice nos gestos que
sequiavam e jaziam sucumbir na ausência. Abriste-me os braços, nesse teu gesto
desprendido e, até ingénuo, desejando tu também voltar a sentir o calor que
faltara em corpos belos e gélidos de um querer. Me mostraste, logo depois,
caminhos ricos em beleza, desconhecidos, maravilhas que, aos olhos de uma até
ali, cega do bom, fizeram nascer um sentimento de esperança quando, de mãos
dadas contigo, ali, caminhamos e, além, o mundo se destrói. Nada importa no
passado, no lado da penumbra que habita as gentes que nos cercam, nos cinzentos
dos dias, rotineiros, quando, basta fechar os olhos e continuo, sorrindo
contigo junto a mim, numa procura no que apenas no “nós” se torna possível,
naquela emoção que nos invade na loucura e tenacidade de tudo conseguir – o
Amor. E o que este era até então? Uma mera palavra, oca e vazia, infundada de núcleo
e raízes num ontem que não se quis manifestar, pela entrega quebrada, os gestos
bruscos e insensíveis de quem, ainda não chegou ao cume para então, lá do alto
do triunfo, ver os passos percorridos, transpirados, em terras serpenteadas de
abismos, mas multiplicados por bênçãos.
E, ainda inicialmente trémula, ia tropeçando nestes socalcos, pedregosos,
já que vacilavam as pernas que sustinham o corpo, até então débil de um
preencher, receoso de um perder, enlouquecido por um sofrer tangível que...
antecipava, já que do feliz era mais difícil perceber. Mas tu, de olhar sempre
atento, me mostravas que não havia razão para temer o que o sol ao amanhecer
traria, já que por perto estavas, tão iluminado, tão verdadeiro, tão intenso e
magistral que, todo o fel se transformava em rosas e delas canteiros floridos.
Pois que toda a joia (és tu) que mais vale, no seu brilho e riqueza, anda
perdida, algures, entre calhaus e mantos arenosos, dominada por ventos ferozes,
chovas corrosivas, esquecida e desconhecida por todos, dado o seu estado bruto,
menos evidente, mais timidamente contida, prestada a voltar-se sobre si na
estabilidade que anseia. É pisada, desdenhada, jogada ao mar e, muitas vezes,
nem observada... quando, por acaso de coincidências fundadas, é tomada nas mãos
de alguém que, ao reparar mais atentamente, se fascina a cada novo segundo que
passa e descobre nela sempre mais belezas e peculariedades extremas, a faz
rodar num lapidar carinhoso, sempre envolvido num calor pacífico, paciente, sem
tempos e turbulências, esta, vai continuamente oferecendo, a cada momento, mais
brilhos, evasões de fantasia, sonhos e felicidades, enchendo a alma daquele que
cuidou e amou, multiplicado por milhares, ao perceber, somente, que das arestas
pontiagudas se escondia o mais poderoso segredo da pureza. E jamais outra igual
se assemelhará, pois nao há igual, não mais de único nesta massa cinza que
habitamos, maior riqueza que que aquela que é oferecida num fixar de olhares,
indiferentes a distâncias e entraves, quando do peito pulsa um afeto
compassado, tão sereno, tão consolador, tão ritmado entre dois corações,
acalorados pela certeza do sempre que não tardará a chegar e a abraçar numa
união inquebrável que, só pelo oxigénio, enfim intranspirado, em corpos
envelhecidos, meras capas, são convidados a conhecer o além sem limites para o
achado eterno de sorrisos em paraísos.
AMO-TE
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