quinta-feira, 23 de abril de 2020

Felicidade


O que é a Felicidade? Ter uma casa com piscina e jacuzzi? Ter um carro topo de gama? Ter milhares na conta à ordem? Usar roupas caras e sempre de coleção? Comer caviar e fazer refeições num restaurante de luxo?
Esquecemo-nos do que é isso – Felicidade! Haverão pessoas que com muito pouco se sentem felizes e pessoas que com muito ou até mesmo tudo, se sentem profundamente infelizes. O que importa mais afinal - bens materiais ou sentimento de paz interior?
Quem hoje em dia, com a vida frenética que leva entre casa, trabalho e família, se reconforta com uma cama feita de lavado? Com um beijo da pessoa que ama logo pela manhã? Um duche cheiroso e demorado? Com o silêncio? Com a observação da Natureza, tão bela, aves esvoaçando e o vento a soprar, som do mar, as ondas batendo uma e outra vez, o sol a adoçar a pele? Quem pára para ouvir as batidas do seu coração? Quem pára para observar demoradamente a pureza de uma criança, o seu sorriso, os seus gestos, a sua pura alegria? Quem pára para ouvir uma música e se deixar guiar nas suas ondulações e flutuações? Quem pára para pensar?
Receio que nos tenhamos esquecido de VIVER! De tudo o que tenho aprendido na vida até agora, tanto pessoalmente como profissionalmente, é que o sofrimento é o reflexo desta ausência de sentir! Não paramos para nos conhecermos, para nos questionarmos; somos robots mecânicos, cada vez mais. Esquecemo-nos do lado infantil de ver em tudo uma novidade e um encanto! Tudo é enfadonho, a rotina, a pressa dos dias, a futilidade, as comparações entre o que eu tenho e o outro tem, as invejas, a falta de fé, a descença em nós mesmos enquanto potencializadores de mudanças, enquanto seres capazes de controlar as suas vidas ao invés de sermos todos arrastados para aquilo que os outros nos levam a crer como certo!
Perdemos a unicidade!!! Faz parecer que nos estamos a tornar todos iguais: o mesmo corte de cabelo, os mesmos gostos pela internet e redes sociais, a mesma roupa, os mesmos hábitos de álcool, tabaco e drogas como disfarce e forma de aceitação nos grupos, a mesma música ouvida, as mesmas comidas saudáveis ingeridas, o mesmo desporto praticado, as mesmas rotinas e a mesma forma de estruturar e objetivar a vida no futuro. Não sabemos ser simplesmente nós mesmos. É dificil olharmo-nos e avaliarmo-nos, refletir em silêncio, libertarmo-nos dos ruídos constantes que soam lá fora, das vozes que ditam o nosso caminho.
Afinal o que desejamos? Quais as nossas necessidades? O que ansiamos? O que nos reconforta? Seguimos os outros pois a maioria deve saber mais do que eu sobre o que é certo ou errado. “Eu não sei que caminho seguir!” Doem os anos em que ocultamos e censuramos o que sentimos, aquilo que calamos e deviamos expressar. Custa fazer diferente quando muitas vezes nem paramos para pensar, pois já somos autómatos de uma vida que não é a que desejámos.
Urge parar e escutarmo-nos!
Clara Conde, 02-06-2017

quarta-feira, 22 de abril de 2020

Doce Artur


Doce Artur

Meu amor mais lindo! Trazes contigo o nome de um passado, de uma memória boa, de momentos em família. Trazes a crença de que os irmãos poderão ser amigos e unidos, esperança na renovação e no amor familiar. Sem pesos, pois que és pequenino, não se impõe tanto a uma criança, mas é uma fé no Amor, és o fruto de uma vontade de crescimento e melhoria!
És a benção desejada, a alegria que veio preencher ainda mais a casa, os espaços, cada canto cantado pelo teu sorriso tão contagioso e cativante. É fácil gostar de ti e amar-te na tua beleza tão única e verdadeira, na naturalidade com que te dás a todos os bem intencionados, nas emoções tão autênticas que transparecem o teu caráter, forte e vincado, decidido, desde logo bem cedo notório.
És o filhote de miminhos ternos, carinhos tão doces, gestos de amor tão verdadeiros! O teu peito contra o meu num colo amado é das maiores delícias que levo desta vida! Sentir-te a respirar contra mim, num toque de pele que faz parecer que somos só um, novamente, unidos no sangue e na alma! És a delícia dos momentos em que te vi crescer e desabrochar, nas mudanças mil no rosto e corpo e formas de falar, de brincar e de estar com os outros; naquela conquista tão esforçada em gatinhar e andar, no encanto de cada passo, na descoberta do mundo que queres a todo o custo assimilar, sentir, experimentar, provar! Tudo em ti é sensações e experiências, novidades e, por vezes, perigos! Um menino cujos olhos dos dois pais não chegam para proteger! A energia e o rodopio incrível, no correr espetacular e decidido, no imitar a mana Alice no mais complexo e o frustrar por não conseguir. Sinto a tua ânsia de crescer, de aprender, de fazer mais; quase um apelo aflito para ir além do pedido para a idade! Mas porquê esperar? O Mundo é tão belo!  - dirias tua se pudesses, na fala aguda de sons inventados e tons trocados, na procura do entendimento do outro, esperando aquele diálogo que para nós, adultos incapazes, se torna difícil e vergonhoso.
Lutas cada dia por ter mais, saber mais e aborrecem-te os brinquedos, pois as gavetas, portas, computadores, telemóveis, comandos de televisão, fichas elétricas, panelas, colheres de pau e afins são bem mais interessantes e, esses sim, em especial os proibidos, são os mais adoráveis! Cresces bem e a um ritmo próprio, sem pressa, sem lentidão. É muito saboroso ver-te nessa procura incessante pelo saber fazer e conhecer. Sugas o mundo por uma palhinha e devoras o ar com uma colher de sopa! Tu fazes sozinho, contestas de cada vez que te queremos ajudar! Disparate os papás julgarem os filhos menos capazes com apenas um ano de idade!
Sou muito grata por te ter na minha vida! Mudaste-a também pelo cansaço, frenesim
, corridas e lamentos, fúrias e zangas, mas o melhor prevalece neste Amor infinito que te tenho, no orgulho pelo menino grande que te estás a tornar e que tenho a honra de contribuir para crescer e ser cada vez mais e melhor! És lindo, muito mais do que eu alguma vez pude imaginar! Rebento de Amor sem Fim, tua mãe orgulhosa que te Ama Muito: Clara Conde.
22-04-2020

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

Prolongamento de Mim



Olho ao meu redor, agora que mais de um ano passou sem o tempo certo para deixar dançar as palavras escritas e lavadas em pensamentos e afetos, internos e só meus, vejo delícias do brincar, uma vida corrida, feliz na maioria das vezes, cansada sempre, em que há sempre uma estrelinha que nos alumia e que veio completar os desassosegos de dois seres, imperfeitos e em busca de encaixe, na vida, entre ambos, de modo a serem mais plenos. Como a descrever?!? Só de pensá-lo, tamanho AMOR, meus olhos humedecem, meu coração aperta, tudo a volta és tu! Um milagre que imaginei impossível, que sofri por me retirarem o sonho, o que mais desejava em vida, além de outros desejos superfluos, válidos mas com perca riqueza. O que haverá de mais glorisoso do que isto? Como, desta paixão e loucura, desta cegueira que só o Amor consegue, se consegue descrever, linguagem tão pobre para tanta simbologia? A vida, quando a penso no passado que fui, do que vivi, do que senti, do que angustiou e feriu, parece trivial e desinteressante. Não sou melhor, agora, contigo, não, por mais que deseje ou me esforce… sou a mesma, com o mesmo cerne, mesmo núcleo, mesmos quereres, mesmas vontades… e sei, complicadamente e culpibilizadoramente, que no fundo também continuo a precisar de mim, apenas, só, na solidão que sempre precisei, não por gostar nem me rejubilar, mas por ser a criadora de Artes que aprecio, que quero que permaneçam a minha marca, além das profissões, dos objetivos certos e visíveis. Quero-me plenamente; mas, estás aqui, tão bela, morria sem pestanejar, lutava sem fraquejar, gritava sem parar, só para te ter sempre e te beijar o rosto pequeno, perfeito, angelical… aquele que resgata sorrisos intencionais, de tão mágica que és aos meus olhos. Queria beijar-te sempre e que conseguisses perceber o meu Amor, agora essencial, mais tarde útil e sempre presente, para te fazer superar tormentas e trovões, necessários mas fétidos, que custam, que moem e que sangram em nós, bem no fundo da nossa essência. Que não sentisses temores, a solidão do vazio de estar abandonado e desprezado num mundo gigante, onde te poderás sentir engolida, por vezes, não pelos melhores, mas pelos poderosos e cobardes, nulos de sentires mais enraizados, lesados de Amor. Esses existem, temo que mais do que os reconfortados e afortunados por dois abraços apertados, o ideal certo, a explosão de emoções que se manifesta em cada gesto, breve, desde que despidos de nós, nos entregamos a ti, anjo celeste. Grata por tudo, porém impaciente. O Amor quer-se sempre maior e mais crescido! Quero largas gargalhas pela manhã, gritos e rabujos. Solta-se um sorriso em mim quando o penso – família grande! Difícil quando se pondera, na teimosia do ser humano, em fazer valer a suas reflexões, além das suas sensações. Sinto que o quero, que um desejo triunfal me chama, me afeiçoa a mente, cobrindo-a de garra, vontades e superações além Mim. Mas, de repente, estende-se um pensamento, não só meu, também vincado por demais de que não serás capaz! Tristeza, tamanha! Dói-me pensar nesse aceitar como real e viver em função disso. Minha doce primogénita, és e serás o núcleo de tudo, a razão essencial do que cerca e a felicidade jamais esquecida que julgavamos impuros de a obter; mas a madre, como admiti, ambiciona mundos elevados – há uma coração inquieto e desassosegados, em que sente que a vida é precária e que o que se destina deve ser vivido Já! Não quero demoras, nem esperas; o que será que virá amanhã?!? Estaremos cá, unos? Aprendi que tudo se dissipa, tudo se perde, tudo ganha alterações sem que o quisessemos. Não confio num sempre eterno; há sim um eterno agora e é esse que quero completar já que em mim há desgovernada incompletude. Quisesse mais após o alcançar? Sem dúvida, mas parar é desistir e acabar! Deixa-me amar meu botão de milagre! Deixa-me completar-te, quando essa necessidade não é tua, afinal. Egoismo ou teimosia? Sonhar demais cansa; estou cansada mas ávida de mais. Não me quedem os membros! Amo amar, simplesmente!

Para ti, com todo o meu ser e alma.
16-02-2017

quinta-feira, 9 de julho de 2015

Visão Centrífuga


Sempre obtive contentamento no ato de escrever. Momentos de ternura, poucos, de aflição, muitos, o grande objetivo da escrita: sossego e clarividência maior para, diante do caos (externo ou interno) assim criar armaduras resistentes ao prosseguir. Um livro, um sonho! A arte das palavras, imbuídas de emoção amarga, nos azedos dos dias, sem luz, conduzíveis a maior inspiração, vontade e ânimo no jogo de palavras que, honrosamente, sabia-o confuso ao geral, apenas sensível ao particular, ao que mais sabe sobre mim e o que me habita.
Sempre vivi em penumbra, apesar de disfarçada de trajes sorridentes e indiferentes à maldade. Vivi, largo tempo, distante do meu ser e sentimentos, encoberta em fantasias e sombras que, pior, não me faziam notar aquela perceção tão cruel de nulidade. Fui inimiga e parceira de batalha, travada em mim, criada por mim. Senti a solidão da falta de entendimento, da falta de caminhos sonhados e aparentemente distantes; fui negada por tantos, desvalorizada demais. No entanto, o sonho nunca ameaçou quebrar. Habitou-me na sucessão de ruínas, no caos desorganizado daquilo que sobejava num esforço que, sempre o tive como o maior. Mesmo a escuridão tem a luz alumiada de um luar magnífico, mesmo no deserto nasce a vida, mesmo no caos dos destroços há amor entre os que sobram, mesmo no tédio dos dias há um impulso de progresso.
Antes ditada pelos valores que os olhos percebiam, agora focada nos valores edificados e únicos que soube, entre cinzas, organizar. Há iguais e soberanas identidades, idênticas em riqueza, mesmo que umas ostentem luxúria e outras, meros trapos. A pobreza não te destrói nem rebaixa; ela te faz mover com força maior que jamais, poderoso algum, sempre pleno dos seus quereres, poderá perceber; logo, é grata a pobreza e o olhar firme e confiante sobre o que há pela frente.
Deixei-me de complexidades, até mesmo na arte escrita. Há plena transparência em cada gesto, atitude e postura. Nada me move além de um querer solitário e de raíz, apenas meu. Enrubeço perante a infidelidade, ganância, traição e falsidade e se antes, um mudo sussurrar me restava, agora há voz feroz e digna, democrática e igual força para contestar. Calar é aceitar; calar é perder; calar é fraqueza! Sempre o mundo se ergueu em função, não dos que com poder mandam e aniquilam os demais, mas sim aqueles seres pensantes, serenos de si e livres, capazes de explodir autenticidade e cegar as cópias comuns (demasiadas). E tudo o tempo mudou, selado no amor-próprio, experiência, tenacidade, coragem e robustez, mas não só!...
A plenitude mora no alcançar do teu maior objetivo em viver, na feliz fortuna de criar amor, fazê-lo amadurecer, ensiná-lo acerca das glórias e irregularidades do aparente plano igualitário da existência. Ganhei luz ao dar luz! A Felicidade completa, aquela que acompanhada de uma côdea partilhada, num respirar amor puro e único, faz erguer-te num aconchego que jamais soubeste entender até o transpirares. Ele virá na salvação do mundo, no poder e força que produz, na esperança que resulta, no júbilo magnífico que liberta, a cada segundo, tido ora em soluços ora em sorrisos meigos. Deleite nos dias tranquilos, lá fora cegos e trajados de Carnaval, embebidos em divina graça, divina dádiva… MILAGRE, graciosamente grata!

Clara Conde, 18/03/2015

segunda-feira, 21 de abril de 2014

Um "Sem" Fim

Se porventura a disposição me trouxe até aqui, não há-de a sorte ter-se tornado mais rica ou gloriosa. Decerto esse sabor doce a vitória me tenha sido vedado, e no nunca permaneça a sorte e o agrado, a conquista e a boa aventurança. Compreendo agora que houve tempos idos passados na onírica imagem de um alcançar algo que, afinal, sei já não ser meu e tudo ao redor se denotar falseado e escurecido. Quisera perceber que teias me cercam e me impedem de andar, ou o que causou este desmancho, este “nada”. Parece que vivo a adolescência eterna de quem se manifesta sempre e não é ouvido. Contudo, por maior as quedas, jaz-me sempre a vontade de mais um pouco, tal insistência de quem julga “ainda” conseguir algo. O “algo” existe e há quem o goze… olho invejosa para eles e, logo depois me deparo com este trage, eu própria, e apercebo-me que não habita nada de interesse para o além entendimentos, além necessidades, além vontades. Fico-me pela rama, e este germe que me habita, saiba deus o que o trouxe até cá,
não deixa que floresça mais um espírito, que dê vida e encante olhares, ou liberte odores detectáveis. Trata-se de um nada acontecer. E os anos passam, indiferentes ao que sonhas e te esforças em abarcar. Nada é importante, somente a ti te achas ainda de valor suficiente para te compadeceres e te achares na miséria e por isso tentar pela última vez. Será que está errado aquelas escolhas proferidas, as palavras ditas, as promessas feitas, as sentenças, os objectivos? Talvez não me reconheça “eu”, para logo depois me expectar numa idêntica superfície pequena, semelhante e que se espelha em ti. Seria tudo bem mais fácil, facilitar a visão negra do mundo. Onde se encontra esse novo olhar para me libertar e puder, enfim, evadir-me e serenar? Persegue um tal destino, ou tormento, que me impele de viver, ou ao menos, aquele que bate, ainda permanece pulseando e, por isso, me leva a reagir. Mas até quando? Há confusão já, aqui, em mim, quando me olho e escuto no íntimo. Com o passar do tempo vou-me indefinindo, como se de um desenho concluído, o tempo levasse de si a grafite que traçou, a tela que cobriu, a tinta que preencheu, e apenas sobrasse um mero rascunho, ou uma garatuja que uma pobre criança, desprovida de maiores saberes, construiu, esquecendo-se que dali provinha uma vida e que, tal como as outras, tem o anseio risonho de puder ter o que aos outros sobeja. Quão amargo é pensar que vimos até cá, aqui, algures no céu, ainda tão encoberto de interrogações, sem que tenhamos pedido, sem que tenha havido uma volição maior que ditasse um querer ou desejo. É que daí, sempre podia partir outra robustez que encaixaria nas fraquezas de um dia-a-dia combalido e impulsionaria o salto, aquela conquista, a sorte que se diz cíclica, mas que para alguns, refiro-me, é plana. Sorte plana. No limiar entre o positivo e negativo, pouco oscilante, ali se detecta a garatuja deformada, sem defeito de um desenhar, pois que o artista é sapiente, defeito em ser-se, inteiro, quando descoberto o peito e analisado um todo, semelhante, mas menor. Talvez as intempéries se devam a malsins que sabem mais sobre os comandos da vida e controlam remotamente o teu percurso, ditando sempre as piores escolhas, as piores saídas, as piores sentenças. Enfureceres-te é graça que lhes ofereces, talvez a alegria sôfrega de quem tem e mais quer, ou não tem e deseja o que nos outros, embora pouco, há. Solta-me solidão destes muros encarnados, escaldantes, tão tenazes que me acompanham e que não consigo demolir!!! Serei débil para tanto ou nunca houve esforço suficiente para destruir? E é assim, nestas interrogações que sempre, de tão reles, se dissolve um sumo viscoso que te anima com energia para mais um dia. Dia após dia, a rebeldia de quem quer e de quem destrói, tudo num só ser, numa só plenitude imperfeita, indesejável. Devolve-me a terra e a pertença, o carinho e o amor, daqueles que partiram, daqueles que nunca estiveram, daqueles que estão mas que não sinto serem meus… há um solitário querer que nada vale, que nada merece, que combalida e liberta odores de ruína, envelhecendo quem se quer acercado, tão inocente, tão bom! Hei-de partir, para onde sabe-se lá, no aqui sem terra, no além flutuante, nada houve que pré-visualizasse, mas que dita um seguimento enevoado, na perfeita comunhão entre ti e tu mesma… como eterno fim, eterno imposto, eterno réu… eterno culpado!

Clara Conde

21/04/2014

quinta-feira, 3 de abril de 2014

O Envolvente


Decorridas longas horas de uma indisposição que impediu a clarificação do presente, sentando sobre os meus pensamentos, acho-me incrédula com as tamanhas façanhas e simbolismos oferecidos nesta realidade que cerca e comprime. Não é clara a compreensão dos feitos e dos gestos, do que move rostos e vontades, sapiências e loucuras observadas em toda a parte, em pormenor maior – em mim.
Daqui se esgota uma potencialidade de avançar sobre terrenos sabidos movediços que parecem abismos numa perspetiva atual. Na observação de míseras almas e da oposição de comportamentos, na rebeldia e escárnio, maldições e aparições, descrês do certo e justo, ideais humanos nunca alcançados. Ante eles és corrupção e despeito, desfragmentada e em desfecho, numa primeira tentativa de estreia de mais de ti. Quem o observa com clareza, reage de braço dado contigo, numa cumplicidade que, de tão genuína, estranhas e questionas. Sempre crente na luta, no angelical divino e benfeitorias, és avassalada contra paredes, apontada e corrompida, naquilo que mais e melhor tens – o nome – único ante outros iguais, todos diferentes. A unicidade, a verticalidade se torna cruel de manter ante déspotas e corrosivos, engolidos sobre si mesmos, numa solidão disfarçada. Nada te é dado e com mil proezas, engenhos reais e armas erguidas, de entre cheiro a pólvora e estilhaços repartidos por tudo em ti, sais de uma nuvem negra, cinzenta agora, exclamada ainda, mas enfim, viva! Pela frente, quando olhar para trás desilude e inflama o peito cansado, longas horas secundadas em mil propósitos, hierarquizáveis de tantos utópicos sonhares e despertares realísticos, sempre opostos. A possibilidade se concretiza na verdade que és e que poucos, gigantes, reconhecem mas que, unidos, a solução abarca, agita, constrange e revolteia, ciclicamente, num caminho iniciado e ofuscado no distante. O que esperar e desejar, perante o congestionamento e a cega dúvida que atua sobre ti, te envolve, moveste mas sem fim à vista? Tudo é vedado na hora da oportunidade, e no momento em que sorris, reparas que num tardar, choras e estremeces perante emoções em idas e vindas, rodopiadas e infinitas que não decifras, porque não és quem és, és pouco no muito, és ténue no sobressalto de um colorir. Manténs-te meramente na filtragem do dióxido de carbono mais imenso que o outro, melhor, que aqui, caída sobre estas terras, são mais pobres que no teu seio, no ventre de onde partiste largos anos idos. A inércia a cada dia contrariada é reprimida até um alívio total, tangível, expetável, incansável quando o amanhã, se sabe, sempre chegará e tardará um termo. Por isso, sem solução, no agora que o alcance total não vem, perde-se em labirintos que, tarefa outra entre tantas, tens de definir. Lamento o desprezível infortúnio, possível e demais temível para suportar. Creio naquela que não apaga, embora de luto se pinte – a esperança no que de tão pouco desejas, do tão pouco ser para aqueles, anónimos, que por ti passam sem saber da sua sorte. Aquele ponto negro agonizante não se desmancha perante os teus gestos, contrários, e desfaz sorrisos e vitórias, evidentes a todos, menos a ti, na cegueira íntima ou desperta lucidez, venham elucidar. Entre o tudo e o nada, caminhas por entre elas, sabendo que de um lado mora o sol e sente-lo aquecendo a tua pele, mas do outro lado está o abismo que esmaga e escurece o que do brilho restou. Saberás o amanhã brevemente, num contar pulsações, já conhecidas, ora calmas ora ansiosas que tão bem controlas, inegável à sorte e ao destino que se quer triunfal, mas que se desconhece o que palmear.
Então segues, cega ao mal, vitoriosa na ilusão mas de corpo quebrado e pobre, ali onde te esperam, local mil outro, de entre tantos, que contar?

Clara Conde, 20/11/2013

Rosa Espinhosa

O limiar entre o milagre da vida e a penumbra da morte resume-se a dois passos. Deixei de te ver e de te saber Alice desde o momento em que passei a olhar-te no vazio de perderes consecutivos, marejados de lágrimas e na esperança sonhada por um igual destino. Um desaparecimento de ti, total, que nem te apercebeste. Foste Alice na sapiência, candura dos dias frescos, com mãos apuradas e mente nítida. Foste Alice quando, tão sábia, me adivinhavas sentires por um relance de olhar em soslaio, evitado, porque sabia-o comprometedor ao atento. Foste Alice naquele regaço macio, corado de chá e delícias, últimas, trocadas em amizade e ternura, igual ou maior ao que fora um passado, um outro binómio, acreditados similares. Foste o último alívio da solidão egóica e o principiar de uma solidão tua, desconhecida e dual. Não sei mais onde te procurar naquilo que te restou, naquilo que deixaste – um nada sem vida, um tudo sentido, um gigante impostor que me alegra no contentamento alucinado de te ver sorrir diante de mim e pronunciares comuns palavras, únicas porque tuas. Será que me consegues sossegar os soluços quando te penso? – saudade. Será que te manténs acercada, sábia de mim, detentora de profundidade suficiente para descobrires o interior que vedo e escondo? E quando de ti quiser saber, almejar-te numa carícia beijada, numa falta profunda e irreparável, onde te encontrar? Não te chorei no completo para permitir-me dizer um adeus real. Não te beijei o rosto gélido e santificado, calmo e, enfim, pacífico. Não me notei suficientemente capaz de te visitar, nem ontem nem hoje, aqui, presente quando afinal, desconheço a tua morada e qual o caminho a percorrer até lá chegar. Edificar-te terrena, no agora, é cumprir com o teu traçado, seguir um exemplo, acompanhar um batimento que conduz e abriga no indizível do silêncio, no grito mudo que cala uma resposta que não chega.
As paredes que te contemplaram, não habitadas, envelhecem e todo o largo de beleza antiga, acompanha um vácuo deixado de nada existir, quando afinal, eras tu quem o preenchias e colorias.
Tanto egoísmo existe na solidão cansada de quem se quer ouvir e rever em vozes e entenderes que descobriu, afinal, existirem, e que anseia, deliberadamente, perpetuar. O ciclo corrompe quereres e vontades alheias. Nada queda o seu movimento perante lamúrias e pedidos, crenças e súplicas, por maior que seja a fé e o céu que contempla. Não recuperadas pessoas, belezas divinas a ele entregues, resta a memória de tempos idos, esses sim livres de jamais se soltarem e escaparem dos nossos dedos manipuladores e ingénuos. Sobra um negro que já era teu, tão longa data, um afagar, um frio tactear, um desabafo, um saber entregue e, tudo o mais, um novo recomeço irónico que nada fizeste por acontecer, mas que recria melhores seres, talvez, do que aqueles que amadurecem e são errantes.
Que saibas gozar de um paraíso que criaste e abraces os teus que te olhavam enquanto te socorrias de um sôfrego chorar, de um tão doloroso pesar… Hei-de, um dia, reconhecer-te na ilusão de um sono profundo sem fim e alegrar com aquela que foste e tão bem soube conhecer o âmago, a tantos outros obstruído.

Clara Conde

22/03/2014

sábado, 13 de julho de 2013

Amor para Sempre

Não há nada que me console mais que imaginar o momento em que surgiste na minha vida e a transformaste por inteiro. E pensar em quem era e o que agora sou deixa evidente a magnífica pessoa que és, já que nenhuma outra seria capaz de conseguir tamanhas mudanças e feitos que tu, sim, geraste. E jamais, por mais que a vida perdure, serei capaz de um agradecimento suficiente quando, das cinzas, fizeste nascer uma flor!... Sem poderes mágicos, nem poções milagrosas, apenas com a tua rara simplicidade, a ingenuidade pura persistente, o olhar meigo, o sorriso fácil, os atos de cuidado, a segurança que transmites, foram as bênçãos que me dominaram, quiçá, como recompensa pelos maus tormentos passados.
Se antes a vida se resumia ao presente, à hora atual, sem projeções, hoje, através de ti, do teu Amor à vida, à beleza da existência, me fizeste ver que há muito além do que sei e pensava saber sobre a finalidade de estar aqui, no mundo… é como se, do caos, das peças desencaixadas de um puzzle, cada qual momentos e circunstâncias, experiências, gentes e lembranças, conseguisses ser capaz de unir e apresentar-me um belo quadro, de muita cor e luz, paisagens magníficas e paraísos e me dissesses “esta é a vida; vem aproveitá-la comigo!”.
Nunca antes foi tão pouco doloroso pensar o futuro, como agora, quando nele te vejo contido e, basta saber-te próximo, atento e no meu aconchego, para acreditar e ter esperança nos sonhos que julguei serem irrealizáveis!

O que tens de único, meu amor? És, sem dúvida, a melhor pessoa que já conheci! E não apenas por ver aquilo que és e te tornaste, no produto que és hoje, como também de todo aquele que foi o teu percurso, o passado, o processo de construção de um homem tão maravilhoso. És um exemplo de força e espírito de luta, sacrifício, iniciativa. Nada, condições algumas, podiam prever que te tornasses nesta beleza que revelas. Dos espinhos de uma vida, nem sempre coberta de ternura, cuidado, proteção, valorização, brotou uma estrela que cintila, única, radiante no sorriso, perfeito nos gestos; aquele que do pouco e sozinho, sem os apoios devidos, aprendeu a Amar e a obter vitórias com luta e cansaço… que nunca esgota, mesmo no esgotamento; que persiste e não desiste – que é, enfim, um exemplo de vida que, de feliz sorte, me enche de luz e graça, dia-a-dia e me faz crer na felicidade de uma família e construções possíveis – aquele que me dá Vida! Aquele que permitiu Tudo! Aquele que quero Eterno em mim!

Muitos Parabéns e Felicidades Mil
Amo-te eternamente
Tua Clara