sábado, 6 de março de 2010

Irreal


“Tenho tanto mas tanto medo de ti! Sempre tive. Agora mais. Estou assustada. Sei que agora que me encontraste, que descobri que afinal me conhecias, nem tua amiga sou. E que é definitivo. E que agora tenho de voltar a refazer-me. Que foi estupidez achar que também a ti podia “enganar”. Ajudaste a descobrir que sou realmente fraca e que sim, tens razão, muito provavelmente não chego aos calcanhares de muita gente REAL por aí. Porque eu não sou real… E que te devo agradecer por tudo isto que descobri que agora dói imenso mas que ajudará a crescer. Foste um anjo. Obrigada por tudo! Deus pôs-te no meu caminho com este propósito. Mas todos os anjos têm asas e tens de voar… simplesmente obrigada e desculpa” e… ADEUS!
Sempre pus e dispus de tudo e de todos. Sim, sempre manobrei! Sempre tive o controlo sobre tudo; agora és tu que tens o poder e te digo “faz de mim o que quiseres”, ao que respondes “não faço nada da tua vida, tenho a minha para seguir”. E te peço perdão, sabendo de antemão que és um passado que desperdicei, mas que igualmente nunca me foi oferecido, porque não era para ser meu… Era simplesmente para dele tirar o sumo e depois despedir-me com mil e uma lágrimas e o sentir que tudo aqui acaba e que agora, descoberta e revelada, nua e espelhada, não quero mais isto, não quero mais enganar ninguém, não quero mais fingir e que agora deixei de saber ser eu. Perdi o muro, o suporte; já nada tenho. Que nunca a solidão foi tão amarga, que nunca o vazio foi tão intenso, que nunca desejei tanto o fim como agora. E julguei eu conhecer já o fundo, quando agora dou com os pés lá em baixo no abismo de mim, do meu não ser. E afundo e morro. E não sei mais quem sou! Tremo e enrijeço, nada mais vale, nada mais cativa. Serei amanhã melhor? Ou assim permanecerei? “Fazes-me sentir vulnerável e fraca, como nunca antes me senti e tens-me nas mãos-tal é como me sinto” Como irei aguentar? Como irei nascer de novo agora? Se a mãe já não acalenta, já não satisfaz, já não estimula, já pouco revela? Se o colo deixou de existir, se o gatinhar é duro e pesado? O s-con de 7 passará a 9 agora? Será que acabou? Já nada resta em mim e já nada presto a vocês, todos enganados e manipulados. Fui o que cada um desejou de mim e à maioria agradei, quando julguei ser-me forte e única. Julguei-me na dureza, quando afinal não tinha consistência e fluía por aí, perdida, enroscando-me em cada fosso, em cada vale, em cada lacuna para me abrigar, ganhando forma diversa, nunca minha e sempre adaptada. Como acreditar que no amanhã haverá sol, quando os meus olhos o ocultam e tudo, de repente, agora, escureceu? Latejante ela bate, peso no olhar, não quero mais nada. Tudo me cansa agora. Porque me manter? Para quê? Se o fim já é este? Desejava um sono profundo, o esquecimento total. Se tivesse um embrião haveria luta em mim… já assim… que nutre este meu corpo se a alma apodreceu, enfim? Foi um caminhar lento, foi sim, desde a tenra idade, sofrida. Sempre questionada, mas afinal o que é isto, quando hoje, nos 25 descobri finalmente a resposta. Resposta que li algures mas que não quis crer, não quis acreditar. Porque não me embalas tu, única, de uma vez, se já por ti espero tempo demais? Não há coragem para o acto, mas há a inacção… ela me ajudará. Foste o primeiro a descobrir-me e a fazer descobrir os prazeres da carne e da alma, revelaste-me a miséria de mim, encoberta, e me marcaste, no que agora resta, no pouco que sobejou…

6/3/2010

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