terça-feira, 4 de novembro de 2008

Além sorrisos


Sozinha, entre si e o seu destino, caminha pesadamente por caminhos desconhecidos, cruzando-se com gentes de todas as formas, raças, atitudes, comportamentos e bizarrias. De um lar de contentamentos instáveis e momentâneos, na infância sempre marcada pelo rural, seus olhos muitas vezes se desviaram para o além, o que está para lá do horizonte na esperança de encontrar seu caminho, o seu talento, o seu futuro, a sua esperança.
Estudou, separada dos pais muito amados, viajou. E diante de livros e cadernos muitos, ansiava subir para ver o que sua visão nunca alcançara, mesmo que se esforçasse em bicos de pés e esticasse o pescoço para sorrir ao belo desconhecido.
Crente da bondade, pontapeada foi várias vezes, mas seus desígnios mantiveram-se sempre. Já de si seus característicos amigos, alguns falsetes, outros mais verdadeiros, que por toda a vida a cercaram de lágrimas ou risos cúmplices, de todo o apoio lhe valeram. Decidida do seu papel no mundo, julgando sua obra necessária, brilhava em si uma paixão enorme pelos desconhecidos e sofridos.
Alice, doce nome a chamavam, em apelos, em socorros, em ciladas, em cinismos. Sorri bela e honesta! Que te faz chorar? O que lhe parecia dificultado, à medida que sua consciência afinava: sonhar alto demais, um sonhar turbulento, complexo, feito de mil obras, de mil fins, de mil vitórias. Mas tentaste sempre, mesmo quando o mundo te puxava para trás e te dizia, entoando em teu peito sons fúnebres, que serias incapaz, que não havia forma de se ter tanto, nos tempos correntes.
Malas de novo postas em partida para novos poisos, vacilaste e temeste o que não conhecias? Nunca! “Alice, acautela-te que és simples e muitos há capazes de te corromper!” – “Tranquilize, sei como actuar!” E passeaste-te debruçada sobre as costas que te pesam e te magoam sobre a “Brasileira” e num soluçar comoveste-te com o teu maior ídolo. Quiseste sentar-te com ele, beijar-lhe as faces, abraça-lo e aprender a riqueza de si. Mas apenas viste uma estátua. “Conheceste-me, Fernando? Achas que caminho bem? Responde-me, por favor!”, mas apenas ouviu ruído, muitas vozes entoando um zumbido agressivo, feroz e sonoro que te fez pensar onde estavas e de onde partiste! A discrepância! Sorriste! Continuaste a caminhar, sozinha agora, sozinha de todos. Vês além um jardim que tenta imitar a natureza selvagem que conheces tão bem e te acercas descansando teus ouvidos e costas curvadas. Ao longe um rio, imenso e poderoso te chama a si. Sem mais, sem hesitar, caminhas agora a passos largos, esquecendo-te das dores que carregam teu corpo. Sentes a brisa, gaivotas revolteiam pelos ares, cortando-os, rasgando-os, deixando um rasto de pureza dispare. Fechas teus olhos e sentes o que para ti mais te completa, sentes-te tão calma, confiante, capaz de caminhar sob a água e te misturar aos peixes que se juntam a ti e brincam contigo. O sol doseia teu rosto branco e magro e bebes sua luz, roubas-lhe seu calor… Tornas a olhar o além e vês sorrir quem muito te diz, que nunca conheces-te mas te zela a cada passo que dás. - “Avó, obrigada! Amo-te! Terás orgulho em mim, prometo!”. Numa rocha desgastada te sentas com gentileza e passas as mãos pela areia que cobre teus pés. – “Será esta a minha nova terra? Ou será apenas por breves momentos de uma passagem relampejante?” Que importa, Alice! Algo nessa nova terra te guarda, saberás se é bom ou mau, mas fará parte da tua narrativa, da tua tentativa de alcançar o incansável. Estás mais próxima, sem duvidar jamais, mas o quanto desejas… Vida perfeita, de todos e quaisquer sonhos realizados, aprende que nunca poderá dar-se em ti ou em qualquer outro ser! Vive o momento, luta sempre e nunca baixes o rosto a nada nem ninguém, pois que teu valor está dentro de ti, escondido nos recônditos do teu ser paradoxal. Sorri, Alice, sorri! Sorri e vive apenas!
04/11/2008

Um comentário:

Anônimo disse...

Adorei a Alice, apetecia-me ser amigo dela. Gostei, abreço.
Arnaldo S.